Folha de S. Paulo


Macron propõe reforma política para cortar parlamentares em 1/3

Eric Feferberg/Reuters
French President Emmanuel Macron delivers a speech during a special congress gathering both houses of parliament (National Assembly and Senate) at the Versailles Palace, near Paris, France, July 3, 2017. REUTERS/Eric Feferberg/Pool ORG XMIT: PAR131
Emmanuel Macron faz pronunciamento a parlamentares no palácio de Versalhes

O presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu apresentar uma reforma política, possivelmente submetida a referendo, para reduzir em um terço o número de parlamentares, restringir a reeleição para o Legislativo e introduzir mecanismos de eleição proporcional.

Macron anunciou seu plano de governo nesta segunda-feira (3) diante dos deputados e senadores do país, convocados ao palácio de Versalhes em um evento pouco tradicional na França. O pronunciamento, que o mandatário quer repetir nos próximos anos para "prestar conta" aos parlamentares, se inspira no discurso sobre o Estado da União, proferido anualmente pelo presidente dos Estados Unidos no Congresso.

O presidente pressionou os parlamentares a aprovar as "reformas profundas de que nossas instituições tanto precisam" em até um ano. "Se for necessário eu as apresentarei aos eleitores em um referendo", disse.

Sobre a redução na quantidade de parlamentares, Macron disse que "um Parlamento menos numeroso, mas com capacidades reforçadas, é um Parlamento onde o trabalho se torna mais fluido, (...) é um Parlamento que trabalha melhor". Atualmente, o Legislativo francês tem 577 deputados e 348 senadores.

O mandatário também anunciou que quer restringir a possibilidade de reeleição ao Legislativo, de modo a renovar com maior frequência os políticos que ocupam cargos eletivos.

Além disso, o presidente prometeu introduzir uma "dose" de proporcionalidade nas eleições legislativas. A proposta, apresentada sem maiores detalhes, responde às críticas ao sistema eleitoral francês reforçadas após o pleito de 11 e 18 de junho, em que o partido de Macron, o centrista República Em Frente!, conquistou uma maioria parlamentar folgada.

O voto para a Assembleia Nacional na França é distrital e ocorre em dois turnos, modelo que enfraquece partidos com posições mais distantes do centro. É o caso da Frente Nacional, da ultranacionalista de direita Marine Le Pen, e a França Insubmissa, de extrema esquerda, liderada por Jean-Luc Mélenchon.

Considerados políticos antiestablishment, Le Pen e Mélenchon obtiveram votações expressivas na eleição presidencial de 23 de abril e 7 de maio, em que foram derrotados por Macron. Seus partidos, porém, ganharam poucos assentos na Assembleia Nacional.

Para Macron, ter mecanismos de proporcionalidade é importante para que "todas as sensibilidades sejam justamente representadas".

Os parlamentares da França Insubmissa e do Partido Comunista não compareceram ao discurso no palácio de Versalhes, construído no século 17 pelo rei Luís 14 para abrigar a família real, acusando Macron de conduzir uma "Presidência monárquica". As legendas convocaram protestos contra o governo nesta segunda-feira.

Thomas Samson/AFP
People gather and wave a French national flag as they listen to La France Insoumise (LFI) leftist party's leader delivering a speech on Place de la Republique on July 3, 2017 in Paris, in reaction to the French President's address to members of the National Assembly and Senate since his election. LFI leader Jean-Luc Melenchon organized a gathering in Paris on July 3 instead of attending President Emmanuel Macron's address to members of Parliament at the Versailles palace. / AFP PHOTO / Thomas SAMSON
Simpatizantes da França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, protestam em Paris

ESTADO DE EMERGÊNCIA

No pronunciamento, Macron afirmou que quer derrubar até o fim deste ano o estado de emergência, implementado após os atentados da organização terrorista Estado Islâmico que mataram 130 pessoas em Paris em novembro de 2015.

A medida, introduzida em caráter temporário, foi renovada repetidas vezes e é alvo de críticas por restringir liberdades individuais e aumentar os poderes da polícia.

"[Devolverei] aos franceses suas liberdades suspendendo o estado de emergência", afirmou. "Essas liberdades são a condição da existência de uma democracia forte."

Ante as ameaças recorrentes de organizações terroristas, o presidente prometeu continuar trabalhando para "prevenir novos ataques e combater [os agressores] sem piedade, sem remorso e sem fraqueza".

PLANO DE ATAQUE

A polícia da França prendeu um homem de 23 anos suspeito de planejar um ataque contra Macron durante o desfile do Dia da Bastilha, em 14 de julho, na avenida parisiense Champs-Élysées, informou nesta segunda-feira a rádio local RMC.

Um inquérito contra o suspeito foi aberto no sábado, após ele expressar interesse na internet em comprar um rifle para atacar o presidente. Durante a detenção, o suspeito se descreveu como "nacionalista" e fez comentários ofensivos contra negros, árabes, judeus e homossexuais.

Em 2016, o homem foi condenado por apologia ao terrorismo. De acordo com a RMC, ele está desempregado, tem afinidade com ideias de extrema direita e é "psicologicamente instável".


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