A Justiça Militar da Rússia condenou nesta quinta (29) cinco tchetchenos acusados de conspirar e executar o assassinato de Boris Nemtsov, político que fazia oposição ao presidente Vladimir Putin, em fevereiro de 2015. Quem ordenou o crime, contudo, continua sendo um mistério.
Segundo a agência de notícias estatal Tass, eles terão suas sentenças definidas na semana que vem. A seu pedido, foram julgados por um júri, e não só por um juiz, como é a praxe na Rússia. As penas vão de oito anos de cadeia à prisão perpétua.
A filha de Nemtsov, Janna, escreveu no Facebook que o "caso continua sem solução", vocalizando a crítica de ativistas segundo a qual o julgamento foi uma farsa. Apenas um dos acusados chegou a confessar o crime no começo da investigação, mas depois voltou atrás. Um sexto membro do grupo se matou durante cerco policial e um sétimo foi julgado mesmo ausente.
Nemtsov havia sido vice-primeiro-ministro no governo de Boris Ieltsin (1991-2000), e cotado como um candidato para assumir o Kremlin. De formação econômica liberal, ele era um dos principais críticos de Putin oriundos do establishment político.
Em 27 de fevereiro de 2015, Nemtsov andava à noite com sua namorada na ponte Bolshoi Moskvorestki, que liga uma ilha à Praça Vermelha. Foi baleado pelas costas, e no local do crime hoje há uma espécie de santuário em sua homenagem.
"A Prefeitura de Moscou se recusou a instalar uma placa em homenagem a ele, então ficaremos aqui para sempre", diz Lyuba, uma ativista de direitos humanos que estava no local na terça(27), antes do veredicto.
Igor Gielow/Folhapress | ||
Memorial improvisado no ponto em que o opositor Boris Nemtsov foi morto, ao lado do Kremlin |
Ela conta que cerca de dez pessoas se revezam para manter fotos de Nemtsov, buquês de flores, velas e uma placa contando o número de dias desde o assassinato –851 quando a Folha lá esteve.
Já houve ataques, noturnos em sua maioria, ao memorial improvisado. "Uma vez chutaram todas as flores e nos chamaram de traidores da pátria", disse a estudante, que passa seis horas no local alguns dias por semana. À noite, as flores e velas são recolhidas para evitar vandalismo.
Durante o dia, turistas que passam no local, que fica junto à muralha do Kremlin, passam geralmente sem entender exatamente do que se trata a homenagem.
"É algo sobre a guerra?", perguntou o espanhol José Ruiz, que passeava com a mulher e a filha pequena. Como Moscou tem dezenas, se não centenas, de pontos de celebração a seus mortos na Segunda Guerra Mundial, não se tratava de uma pergunta despropositada.
Nemtsov é o mais vistoso, politicamente, opositor de Putin que foi assassinado. A jornalista Anna Politkovskaia, crítica do Kremlin, foi morta a tiros em 2006 –no seu caso, cinco tchetchenos também foram para a cadeia acusados do crime. O ex-espião Alexander Litvnienko foi envenenado com material radioativo no exílio, em Londres, em 2006, e a polícia britânica acusou diretamente o Kremlin pela morte. O ex-deputado Denis Voronenkov, baleado ao sair de um hotel em Kiev neste ano, e a investigação ainda está em curso.
O Kremlin nega qualquer envolvimento nos assassinatos.