Folha de S. Paulo


Mídia dos EUA critica veto da Casa Branca a transmissões ao vivo

Saul Loeb - 15.mai.2017/AFP
White House Press Secretary Sean Spicer holds a daily press briefing in the Brady Press Briefing Room at the White House in Washington, DC, May 15, 2017. / AFP PHOTO / SAUL LOEB ORG XMIT: SAL036
O secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, em briefing diário em maio

Minutos antes do início da entrevista coletiva diária da Casa Branca na última sexta (23), as luzes da sala tiveram sua intensidade reduzida. Foi a confirmação de que o encontro com o porta-voz, Sean Spicer, não poderia, novamente, ser transmitido ao vivo pelas redes de TV.

Apenas o áudio da conversa de Spicer com os jornalistas pôde ser gravado e reproduzido pelas emissoras de televisão e rádio, mas só quando o porta-voz deixou o apertado auditório.

Foi a terceira vez na semana que isso ocorreu. Em apenas três dias nas últimas três semanas, os cinegrafistas puderam ligar as câmeras durante o tradicional "briefing" com o porta-voz –uma mudança duramente criticada pelos principais veículos americanos e pela Associação dos Correspondentes da Casa Branca.

Como ato de protesto e provocação, a rede de TV CNN enviou à entrevista coletiva da sexta-feira (23) o ilustrador Bill Hennessy, que faz os desenhos de sessões fechadas na Suprema Corte, ocasiões em que a emissora tampouco pode gravar.

Tuíte

Na véspera, o presidente da associação dos correspondentes, Jeff Mason, da Reuters, havia se reunido com Spicer e a vice-porta-voz, Sarah Huckabee Sanders, para demonstrar a "insatisfação" dos jornalistas com essas novas diretrizes.

"Acreditamos fortemente que os americanos devem poder assistir e escutar os mais altos funcionários do governo sendo questionados por uma mídia independente, segundo os princípios da Primeira Emenda [da Constituição, que garante direito à liberdade de imprensa] e a necessidade de transparência nos mais altos níveis do governo", diz Mason, em nota.

No tumultuado início do governo Trump, as entrevistas coletivas eram transmitidas praticamente todos os dias e chegaram a bater em audiência, em fevereiro, a programação vespertina de redes como ABC e CBS, segundo o instituto Nielsen.

As respostas atravessadas de Spicer aos repórteres durante a semana viravam piada aos sábados, no humorístico Saturday Night Live.

Com o tempo, a tensão entre o presidente Donald Trump e a mídia americana só se intensificou. Vazamentos de informações sobre as ligações entre a equipe do presidente e o governo russo começaram a ser publicados quase diariamente nos principais jornais.

Trump seguiu criticando, em suas contas oficiais, a imprensa "fake news", que foi definida por ele como "inimiga do povo americano".

A situação ficou cada vez mais delicada para a equipe de comunicação da Casa Branca. Há meses circulam rumores de que o presidente está insatisfeito com Spicer. A maior frequência de Sarah Sanders na sala de imprensa alimenta as especulações sobre a substituição do porta-voz. Há quase um mês, o governo tenta encontrar, sem sucesso, um novo diretor de comunicação, após a renúncia de Mike Dubke.

Apesar de parecer uma mudança radical no formato, porta-vozes do governo Barack Obama, como Josh Earnest e Robert Gibbs, também tiveram épocas em que deram preferência às entrevistas sem transmissão ao vivo. A sabatina diária em frente às câmeras só teve início no governo de Bill Clinton.

"Haverá dias em que eu vou decidir que a voz do presidente será a que deve falar", respondeu Spicer na última segunda (19), ao ser questionado pela decisão de manter as câmeras desligadas.

O argumento do porta-voz é que Trump já tem falado muito à imprensa, e que as entrevistas sem transmissão ao vivo dão oportunidade para que ele fale mais abertamente com os repórteres.

Os correspondentes contestam. "Há uma supressão de informação nesta Casa Branca que não seria tolerada num encontro de câmara municipal", reclamou o setorista sênior da CNN Jim Acosta. "Não tenham dúvidas: a Casa Branca está se esquivando da imprensa."


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