Folha de S. Paulo


Em ato realizado em estádio, Cristina Kirchner anuncia reentrada na política

Em ato realizado nesta quarta-feira (20) em um estádio em Avellaneda, Província de Buenos Aires, a ex-presidente Cristina Kirchner, 64, anunciou sua reentrada oficial na política argentina com uma nova aliança partidária, a Unidade Cidadã.

A nova força deixa de fora o Partido Justicialista, legenda oficial do peronismo, e reúne outras agrupações e movimentos também peronistas.

Num palco rebaixado no centro do gramado, Cristina discursou por cerca de uma hora. Pediu que não se vaiasse o atual presidente, Mauricio Macri, mas fez duras críticas aos ajustes que seu governo implementa desde a posse, em dezembro de 2015.

Eitan Abramovich/AFP
Argentinian former President (2007-2015) Cristina Kirchner waves during a rally in Buenos Aires on June 20, 2017. Kirchner launched her new Unidad Ciudadana (Citizen Unity) party but maintained suspense over whether or not she will run for the Senate in next October legislative elections. / AFP PHOTO / EITAN ABRAMOVICH
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirshner durante ato em estádio de futebol

Com capacidade para 30 mil pessoas (incluindo o gramado), o estádio estava quase lotado, apesar do frio de 9°C. Do lado de fora, dois telões foram instalados para quem não conseguiu entrar.

"O aumento das tarifas de gás e eletricidade é um delírio. É preciso frear os abusos deste governo", disse a ex-presidente, referindo-se aos cortes nos subsídios que existiam sob sua gestão (2007-15) e que fez com que os preços de ambos subissem até 700%.

"A inflação [de 40%] agora atinge a todos, independentemente de suas crenças políticas, e os mais pobres não estão protegidos. Os argentinos tiveram sua vida desorganizada e já não conseguem chegar ao fim do mês."

Ao longo do discurso, Cristina chamava ao palco pessoas que se diziam afetadas por políticas de ajuste de Macri.

Eram estudantes que perderam bolsas na faculdade com o corte de gastos com educação, famílias que tiveram de abrir mão de comprar roupas e certos alimentos diante do aumento do preço dos remédios e filhos de desaparecidos políticos reclamando de propostas para reduzir penas de militares envolvidos na repressão durante a ditadura militar (1976-83).

Cristina também convidou uma família de bolivianos para criticar as restrições à imigração que constam em projeto de lei do atual governo e o que considera racismo de parte de seus eleitores.

"Àqueles que franzem o nariz diante dos compatriotas da Pátria Grande [América Latina], vamos mostrar o quanto contribuem para nossa sociedade", disse.

A cada caso, a multidão respondia com o coro de "vamos a volver" (vamos voltar) e "Cristina senadora".

Vestida de azul e com um broche com a bandeira da Argentina, a ex-presidente disse mais de uma vez estar à beira das lágrimas: "Não me interessa ganhar eleições, mas que os argentinos voltem a poder planejar suas vidas".

VAIAS

No momento mais emotivo do evento, Cristina chamou ao palco um casal com três filhos que recebia subsídios do Estado (ele é cego e ela tem visão reduzida).

Com um corte recente na verba para pessoas com deficiência, o casal perdeu metade de sua renda mensal. Nesse momento, a multidão reagiu com xingamentos contra Macri. Cristina novamente pediu calma e que não se usasse linguagem agressiva.

Os militantes começaram a chegar por volta do meio-dia abraçados a bandeiras argentinas e com cartazes críticos a Macri ou de apoio à ex-presidente. Nos dias anteriores, Cristina pedira em redes sociais que os militantes não trouxessem insígnias de partidos nem organizações, "só a bandeira argentina, pode ser feita por você mesmo".

Seu novo partido, o Unidade Cidadã, anunciará nos próximos dias a lista de candidatos para as eleições legislativas de 22 de outubro.

Para o pleito, que renovará mais da metade do Congresso e é considerado um termômetro das próximas eleições presidenciais, a lei exige a promoção de primárias partidárias em agosto.

Como Cristina não queria enfrentar Florencio Randazzo, seu ex-ministro de Transportes e preferido dos peronistas de centro e de direita, a ex-presidente resolveu deixar o Partido Justicialista.

O prazo para inscrever candidatos vence no sábado (24). O peronismo deve chegar ao pleito com três candidatos principais à liderança do Senado: Cristina (Unidade Cidadã), Randazzo (Partido Justicialista e aliados) e o ex-candidato à Presidência Sergio Massa (Frente Renovadora).

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CRONOLOGIA

19.fev.1953
Nasce em La Plata, na Argentina

1989
É eleita deputada pela província de Santa Cruz, onde seria reeleita em 1993 e 1995

1995
Deixa o cargo de deputada para assumir o de senadora pela mesma região

14.mai.2003
Néstor Kirchner se torna presidente, e Cristina assume o posto de primeira-dama da Argentina

23.out.2005
Volta a ocupar uma cadeira no Senado, dessa vez pela província de Buenos Aires

28.out.2007
É a primeira mulher a ser eleita presidente da Argentina

23.out.2011
É reeleita presidente

14.jan.2015
Vive crise política com denúncia de Alberto Nisman, que acusa Cristina de encobrir os responsáveis de atentado contra um centro judaico. Quatro dias depois, o promotor é encontrado morto

22.nov.2015
Apoia o candidato Daniel Scioli, mas vê Mauricio Macri se eleger presidente e colocar fim a 12 anos de kirchnerismo no país

27.dez.2016
Protagonista de saga judicial com várias denúncias, Cristina vira ré, acusada de associação ilícita

20.jun.2017
Anuncia reentrada na política


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