Folha de S. Paulo


Farc devem concluir nesta terça-feira entrega de armas à ONU

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) deverão concluir nesta terça-feira (20) a entrega de suas armas à missão da ONU na Colômbia, selando o fim do conflito armado no país.

Porém, tanto a guerrilha quanto o governo de Juan Manuel Santos tiveram provas de que não será fácil manter o acordo de paz como planejado nas conversas realizadas em Havana, Cuba.

Em 7 de maio passado, o Tribunal Constitucional (Suprema Corte) deu aval ao Congresso para mudar as leis que regem os pontos do acordo sem a permissão do Executivo, como era feito até então.

Embora Santos tenha maioria no Congresso, a sentença ajudará seus rivais, liderados por seu ex-aliado e antecessor no cargo, Álvaro Uribe, a protelar a tramitação dos projetos de lei.

Os primeiros resultados da sentença foram vistos na medida que transforma as Farc em partido. A aprovação das dez cadeiras no Legislativo e do fundo partidário da guerrilha levou três semanas.

Emperrou também a reforma agrária. O Centro Democrático, partido de Uribe, quer incluir um aditivo para assegurar a posse das terras tomadas por empresários na região do conflito.

Os dois casos mostram que a oposição tentará levar a discussão o mais perto possível da campanha para as eleições parlamentares e presidenciais de 2018.

Para Carolina Jiménez, professora de ciência política da Universidade Nacional da Colômbia, a ação da oposição era esperada, já que eles representam os "setores da economia".

"Eles [empresários] teriam problemas, inclusive na reparação por restituição das terras, porque muitos dos senhores da guerra concentraram e se apropriaram das terras por deslocamento forçado", afirma Jiménez.

ELEITORAL

A diretora do Programa de Investigação do Conflito Armado e Construção da Paz da Universidad de Los Andes (Bogotá), Angelika Rettberg, avalia que a atuação de Uribe tem fim eleitoral.

Ela relembra que os primeiros contatos que levaram à paz foram feitos pela administração passada. "Acho que há mais continuidade do que Uribe e seus partidários estariam dispostos a reconhecer."

A oposição usa a seu favor a impopularidade de Santos, cuja aprovação atingiu 26% em maio, segundo o instituto Gallup, e a resistência da população em relação ao acordo selado em Havana.

Entre os consultados na pesquisa, 57% consideram que a implantação do acordo de paz segue um mau caminho e 51% dizem que a guerrilha não vai cumpri-lo.

Embora não tenha sido atribuído às Farc, o atentado do sábado (17) contra um shopping de Bogotá, que deixou três mortos, deve aumentar a rejeição a negociações futuras, como a do ELN (Exército de Libertação Nacional).

John Restrepo, professor da Universidade de Medellín, considera que o passado recente da guerrilha ainda influencia a opinião pública.

"A imagem que ficou nos últimos anos é de que as Farc são um grupo de traficantes e que a saída para o conflito deveria ter sido militar."

Angelika Rettberg afirma que a resistência popular também é um dos motivos para que a Justiça e o Congresso tenham brigado por mais influência no acordo.

O problema começou com a vitória do "não" no referendo de outubro sobre o acordo de paz. "Sempre vai existir o argumento de que o texto não foi aprovado pela maioria", afirma Rettberg.

Ela considera, porém, que as barreiras ao acordo são mais saudáveis que preocupantes. "Isso mostra que existe separação de poderes e que toda essa discussão acontece nos canais institucionais."

Editoria de Arte/Folhapress

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