Folha de S. Paulo


Brasileiro é vizinho de mesquita atacada em Londres

Depois de perder um casal de alunos italianos no incêndio do prédio Grenfell Tower no último dia 14, o professor paulista Douglas Nakaya, 34, acompanhou de perto mais uma tragédia em Londres.

No início da madrugada desta segunda (19), ele acordou assustado com o som do helicóptero da polícia que rondava Finsbury Park, na região norte da cidade, após um homem atropelar um grupo de fieis que deixava uma mesquita no bairro, matando um e ferindo ao menos dez.

Numa noite de sono interrompido pela tensão, o brasileiro acordou às 6 da manhã para seguir para o trabalho. Desconfiado de um novo ataque pelo voo incomum do helicóptero na região, confirmou o episódio pela internet e quando saiu de casa viu parte da rua principal bloqueada pela polícia.

Divulgação/Facebook
Gloria Trevisan e Marco Gottardi, alunos de Douglas Nakaya, morreram na Grenfell Tower
Gloria Trevisan e Marco Gottardi, alunos de Douglas Nakaya, morreram na Grenfell Tower

"Quando esses ataques acontecem o meu mecanismo de defesa é não ler [sobre o assunto] pra evitar a sombra do medo. Se você acompanha você vive esse jogo, mas quando você vê tudo muito próximo– primeiro os meus alunos, agora esse ataque do lado de casa!– por mais que a gente queira evitar, a situação vai ficando cada vez mais assustadora", disse o professor à Folha.

Há um ano e meio morando em Londres, Nakaya dava aulas de inglês ao casal de italianos Glória Trevisan e Marco Gottardi, ambos de 27 anos, em um curso, numa turma noturna voltada para estudantes que trabalham.

"Dei aula pra eles quase dois meses. Quando eu soube no sábado (17) o que aconteceu através de outra aluna eu fiquei em choque."

Os dois eram arquitetos e viajaram para Londres com o objetivo de melhorar o inglês e trabalhar na cidade num momento de crise econômica na Itália. "Soube que eles ligaram para os pais e disseram que estavam vendo o fogo subindo pelas escadas e não tinha como sair", disse.

"A menina falou para o pai que sentia muito e nunca poderia abraçá-lo de novo."

Em uma das conversas com o pai, divulgada por jornais italianos, ela lamentou não poder retribuir à família a ajuda para viver em Londres.

"Eu tinha toda a minha vida pela frente. Eu não queria morrer. Mas obrigada por tudo o que você fez por mim. Agora eu estou indo pro céu e vou te ajudar de lá", disse ao pai a arquiteta até a ligação ser cortada por volta das 3h do último dia 14.

Nakaya afirmou que o casal chegou a ver a transmissão do incêndio pela TV sem saber como escapar.

"Quando recebi a notícia, não conseguia falar. Você tem duas pessoas vivas na sua lembrança. Eles eram muito inteligentes", contou. "Um dia um deles fez um desenho maravilhoso na aula. Apagar a história de dois jovens talentosos em um suposto acidente é muito chocante."


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