Folha de S. Paulo


'Estrada da morte' fez 47 das 64 vítimas de incêndio em Portugal

Das 64 vítimas mortais do incêndio florestal que atinge Pedrógrão Grande e arredores, no centro de Portugal, 47 estavam na estrada nacional 236, que já está sendo chamada de rodovia da morte pelos portugueses.

A estrada regional é cercada por uma vegetação densa que -com o clima seco, a temperatura elevada e os ventos fortes- acabou se tornando combustível para alimentar as labaredas e propagar rapidamente o incêndio.

Dos 47 mortos na via, 30 foram encontrados em seus carros e, os outros 17, fora dos veículos ou à beira da estrada. A maioria morreu carbonizada.

As demais vítimas estão espalhadas por aldeias da região. Entre os mortos, houve também quem tivesse inalado a fumaça tóxica do incêndio.

Segundo relatos dos sobreviventes, a fumaça escura dificultou a visibilidade e muitos acabaram presos nas labaredas. Eles relatam cenas de terror.

Segundo o Ministério da Administração Interna, ainda havia quatros focos de incêndios ativos.

O calor e a baixa umidade do ar permanecem neste domingo e há o temor, entre os moradores, de que novas aldeias sejam afetadas. Cinco localidades foram evacuadas preventivamente.

Editoria de Arte/Folhapress
Onde fica Pedrógão Grande - Portugal
Onde fica Pedrógão Grande - Portugal

Diversas nações prestaram mensagens de solidariedade aos portugueses.

A França e a Espanha cederam aeronaves para auxiliar no combate as chamas.

VISTA AÉREA

Um dos pilotos que atuaram no combate ao incêndio, João Silva dos Santos fez um relato emocionado do que viu dos ares.

"Ontem a mãe-natureza decidiu que quem manda é ela. Assisti a trovoadas secas com relâmpagos brutais a cair na floresta, ventos fortíssimos e sempre a mudar de direção e um tipo de nebulosidade que nunca tinha visto. O combate aéreo ao fogo, nestas condições, é extremamente difícil e perigoso."

O presidente da Câmara (equivalente a prefeito) de Pedrógão Grande disse que não há ninguém na região que não tenha sido afetado. "As pessoas não querem sair de casa, têm medo. O fogo não está extinto".

VÍTIMAS

O governo português prometeu divulgar na noite de domingo (tarde no Brasil) um novo balanço da situação.

Até agora, foram confirmados 64 mortos, 135 feridos e 150 desabrigados. O número de desaparecidos ainda não foi divulgado.

A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, foi até o local e tentou minimizar críticas de moradores de que o trabalho de auxilio teria sido lento.

"Este é o momento para combater [o incêndio], não para fazer avaliações", disse a ministra.

A Polícia Judiciária trabalha agora para recolher e identificar os corpos.

No caso das vítimas carbonizadas, em que a identificação visual não é possível, o trabalho será mais demorado.

De acordo com o médico Carlos Durão, perito-legista, nesses casos é a identificação leva em conta uma série de fatores, desde os pertences e o local onde os corpos foram encontrados até a arcada dentária.


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