Folha de S. Paulo


Supermaioria no Legislativo francês pode ser risco para Macron

O movimento centrista criado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, pode saltar de seu saldo atual de nenhum deputado a uma ampla maioria parlamentar nestas eleições legislativas.

O segundo turno será realizado neste domingo (18), e as projeções indicam que o República em Frente!, criado há um ano, receberá até 455 cadeiras da Assembleia Nacional, de um total de 577.

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O presidente francês, Emmanuel Macron, após votar no domingo
O presidente francês, Emmanuel Macron, após votar no domingo

O resultado representa uma imensa vitória, mas tem os seus poréns –como o sapo da fábula de Esopo que, de tanto se inflar, estourou.

Macron e seu premiê conservador, Édouard Philippe, poderão aprovar com folga as reformas prometidas na campanha, entre elas as mudanças das leis trabalhistas.

Mas circula algum receio de que, sem oposição parlamentar efetiva, o presidente enfrentará uma série de desgastes em sua popularidade. A contestação viria das ruas, e não mais das bancadas.

"Se as leis não forem discutidas pelos parlamentares antes de serem aprovadas, então vamos usar as nossas vozes nos protestos", diz à Folha Jacqueline Ceyte, voluntária da França Insubmissa, de extrema esquerda.

Ceyte passou a manhã de terça-feira (13) distribuindo panfletos em Paris, apoiando o partido de Jean-Luc Mélenchon, que deve ter de 8 a 18 assentos na Assembleia.

Ela diz que Macron terá uma maioria de parlamentares domesticados. "Os deputados não vão discutir nada. Vão dizer 'amém' a tudo o que o presidente pedir."

Uma ameaça semelhante foi feita pela candidata conservadora Nathalie Kosciusko-Morizet, que disputa um distrito contra um candidato da República em Frente!. "Se não houver debate no Parlamento, haverá nas ruas."

O partido de Kosciusko-Morizet, o Republicanos, critica o tamanho da maioria de Macron, que pode ser uma das maiores da história. Em 1993, 472 deputados foram eleitos pela direita.

DEBATE

O cenário não é assim tão dramático, diz Bruno Cautres, analista da Sciences Po. Apesar dos desafios de gerenciar uma maioria desse tamanho, o resultado previsto para as legislativas é positivo.

"Vai depender de como o governo abordar a Assembleia", diz. Como Macron foi eleito prometendo uma nova maneira de fazer política, "ele precisará ser coerente".

As leis terão que ser amplamente debatidas, antes da votação, em um diálogo que envolva a sociedade. Não é um processo estranho ao República em Frente!, criado no ano passado após uma extensa consulta popular.

Os dois temas mais complicados serão as reformas nas leis trabalhistas e nas aposentadorias –sindicatos já avisaram desde as eleições presidenciais, em maio, que estão prontos a protestar.
Mas, para militantes do República em Frente! de Macron, não há razões para o pessimismo antecipado.

Em campanha nas ruas de Paris, o empresário Roman Reboux diz que o movimento está pronto para discutir suas medidas e que não vai se aproveitar da maioria legislativa para se impor.

"Não vejo um problema. Esse é um argumento da oposição, no qual não acredito", afirma. "Teremos pontos de vista diferentes, dentro da nossa maioria, e o debate vai ser aberto a todos."

Os mercados também não veem problemas. A agência de classificação de risco Standard & Poor's, por exemplo, celebrou a vitória legislativa de Macron, que entendeu como sinal da estabilidade.


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