Folha de S. Paulo


Projeção com boca de urna indica vitória ampla do partido de Macron

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French President Emmanuel Macron (L) waves next to his wife Brigitte Macron as they leave after voting at a polling station during the first round of the French legislative election in Le Touquet, on June 11, 2017. French voters went back to the polls on June 11 for the first round of parliamentary elections that are predicted to give President Emmanuel Macron's centrist party a commanding majority. / AFP PHOTO / POOL / Christope Petit Tesson
O presidente da França, Emmanuel Macron, em um posto de votação em Le Touquet, no norte do país

Em um claro rechaço aos partidos tradicionais, que devem ter suas bancadas reduzidas a frações, o presidente francês, Emmanuel Macron, teve uma ampla vitória neste domingo (11) no primeiro turno das eleições legislativas que devem dar o tom a seu mandato, após se eleger em maio com 66% dos votos.

O Partido Socialista, no governo até este ano, sofreu uma derrota histórica e perderá boa parte das vagas; a direita também encolheu.

O movimento de Macron, o centrista República em Frente!, recebeu 32% dos votos, segundo estimativas de boca de urna divulgadas às 22h locais (17h em Brasília).

Se confirmada a tendência, o República em Frente!, criado há um ano, terá de 415 a 455 dos 577 assentos na Assembleia Nacional, equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. A fatia mais ampla da história foi registrada em 1993, com 472 deputados eleitos pela direita.

O número é uma projeção, pois a maior parte das vagas será definida no segundo turno, no próximo domingo (18), do qual participa quem obteve mais de 12,5% dos votos.

Na primeira etapa, são eleitos diretamente os candidatos com mais de 50%. Foram apenas quatro neste domingo -dois da República em Frente!, um do Divers Gauche (esquerda) e outro da União dos Democratas e Independentes, de centro-direita.

O resultado foi criticado pelos demais partidos, descontentes com a extensão da maioria de Macron na Assembleia, onde terá margem para aprovar as suas leis.

Com 21,2% dos votos, os conservadores Republicanos terão de 70 a 110 cadeiras, segundo a mesma projeção, feita pela consultoria Ipsos. Eles tinham 199 assentos.

Já o Partido Socialista, do ex-presidente François Hollande, teve 10% dos votos, o que deve garantir de 20 a 30 vagas -menos de 1/10 das 284 atuais. O líder da sigla, Jean-Christophe Cambadélis, eliminado no primeiro turno, disse não que o resultado "não é saudável".

Cambadélis afirmou que a esquerda viveu um retrocesso sem precedentes e disse que Macron "não deveria se beneficiar de um monopólio da representação nacional".

Benoît Hamon, que fora o candidato socialista às presidenciais e tentou neste domingo o cargo de deputado, já foi eliminado neste turno.

A França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, teve 10,9% dos votos e deve obter de 8 a 18 cadeiras -as primeiras do partido, criado em 2016.

A Frente Nacional, da ultranacionalista de direita Marine Le Pen, teve 13,9% e receberá de 1 a 5 assentos. A sigla tinha uma cadeira. Le Pen, que concorre, passou para o segundo turno.

O sistema distrital francês elege deputados por unidade eleitoral. Não há, portanto, uma relação direta entre as porcentagens e as cadeiras.

ABSTENÇÃO

Os números, se confirmados dia 18, significam que o presidente terá uma maioria absoluta de legisladores e, com ela, poderá aprovar as reformas políticas que estavam na base de sua campanha -em especial, as mudanças nas leis trabalhistas, em um país que registra hoje 10% de desemprego.

Foi, por outro lado, historicamente baixo o comparecimento dos eleitores, o que pode colocar suas decisões em xeque. Calcula-se que a abstenção tenha sido de 51,2%, a mais alta desde 1958. A taxa no primeiro turno de 2012 fora de 42,7%, recorde.

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French Socialist Party (PS) First Secretary Jean-Christophe Cambadelis gives a speech during an event at the PS headquarters in Paris, after the polls closed in the first round of France's legislative elections on June 11, 2017. French President Emmanuel Macron's party topped the first round of voting in June 11's parliamentary elections, putting him on course for an overwhelming majority to implement his programme of ambitious reforms. / AFP PHOTO / GEOFFROY VAN DER HASSELT
Jean-Christophe Cambadelis, líder do Partido Socialista, discursa em Paris após ser derrotado

A abstenção de metade do eleitorado, que é de 46,9 milhões dos 66,8 milhões de habitantes, indica o desencanto da população, que pode ter apoiado Macron para frear Le Pen, e não necessariamente por sua plataforma.

A participação nas eleições legislativas variou de 70% a 80% entre 1958 e 1986, segundo o diário "Le Monde", mas cai desde os anos 90.

Rivais de Macron, como os Republicanos e a Frente Nacional, pediram que seus eleitores compareçam às urnas no próximo domingo.

Le Pen definiu a abstenção como "catastrófica" para o país. O conservador Alain Juppé, prefeito de Bordeaux, disse que é importante impedir uma Assembleia "monocromática", de um partido.

RENOVAÇÃO

Há diversas explicações para o sucesso de Macron nas eleições legislativas. Uma delas é a proximidade desse pleito com as presidenciais, em 7 de maio. O partido vencedor se beneficia da vitória recente, que motiva eleitores, enquanto os rivais são desmobilizados por sua derrota.

Mas o presidente centrista também colhe o que semeou nos últimos meses, ao propor uma renovação política.

Com sua eleição e a provável maioria legislativa, Macron rompe o domínio dos partidos tradicionais na política francesa. Metade dos candidatos da República em Frente! não tem experiência política prévia. Metade dos nomes é de mulheres.

Entre todos os partidos, concorreram 7.882 candidatos.

Editoria de Arte/Folhapress
1º turno das eleições legislativas na França
1º turno das eleições legislativas na França

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