Folha de S. Paulo


Theresa May forma governo com sigla pequena após revés em eleição

Justin Tallis/AFP
Britain's Prime Minister and leader of the Conservative Party Theresa May delivers a statement outside 10 Downing Street in central London on June 9, 2017 as results from a snap general election show the Conservatives have lost their majority. British Prime Minister Theresa May faced pressure to resign on June 9 after losing her parliamentary majority, plunging the country into uncertainty as Brexit talks loom. / AFP PHOTO / Justin TALLIS
A primeira-ministra Theresa May faz anúncio nesta sexta (9) em frente à residência oficial, em Londres

Após o revés nas eleições britânicas desta quinta-feira (8), a primeira-ministra conservadora, Theresa May, vai tentar salvar seu cargo formando uma aliança com um pequeno partido norte-irlandês.

Ela foi ao palácio de Buckingham às 12h30 locais (às 8h30 em Brasília) para reunir-se com a rainha e convencê-la de que terá apoio o suficiente para governar. Na saída, disse que "agora é hora de trabalhar", prometendo "certeza" ao futuro político.

O Partido Conservador recebeu 318 assentos, mas é necessário ter ao menos 326, que no Parlamento correspondem à metade dos 650 disponíveis mais um. Em segundo lugar, o Partido Trabalhista, terá 261 cadeiras.

May anunciou ter travado um acordo com o DUP (Partido Unionista Democrático), da Irlanda do Norte, que tem 10 assentos –somando assim 328.

"Continuaremos a trabalhar com nossos amigos e aliados no DUP, em particular", declarou May. "Nossos dois partidos desfrutaram uma relação forte durante muitos anos e isso me dá confiança para acreditar que seremos capazes de trabalhar juntos pelos interesses de todo o Reino Unido."

O DUP justificou seu apoio como uma maneira de impedir que o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, chegue ao poder. Corbyn tem boas relações com nacionalistas norte-irlandeses, rivais do DUP –partido que defende a permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido.

A premiê também disse que manterá alguns de seus ministros mais importantes, como Philip Hammond (Fazenda), Boris Johnson (Relações Exteriores) e Amber Rudd (Interior).

Eleição no Reino Unido - Conservadores perdem maioria em pleito que eles mesmos convocaram

IMPACTO

Os resultados da quinta-feira foram especialmente impactantes para May, que havia antecipado as eleições em abril passado para ampliar sua maioria parlamentar, então de 330 assentos.

Com o fiasco –ela perdeu cadeiras, em vez de ganhar– crescem os pedidos para que renuncie ao cargo, o que por ora ela se recusa a fazer.

O direito da primeira tentativa de formar um governo cabe aos conservadores, que venceram as eleições, mesmo sem chegar à maioria.

Se falharem, a prerrogativa passa aos trabalhistas, que anunciaram sua disponibilidade durante a manhã.

"Nós vamos nos apresentar para servir o país e formar um governo de minoria", disse John McDonnell, um porta-voz trabalhista. "A razão para isso é que eu não creio que os conservadores sejam estáveis e que a primeira-ministra seja estável."

A instabilidade política fez com que a libra esterlina chegasse a seu valor mais baixo em relação ao euro em cinco meses, 1,1322 euro.

Eleições no Reino Unido - Mapa com resultados da votação

OPÇÕES

O cenário em que um partido não tem a maioria para governar é conhecido no Reino Unido como "hung Parliament", que significa um "Parlamento suspenso".

Sem a aliança com a sigla irlandesa, a primeira-ministra poderia, em tese, manter-se na chefia até a primeira reunião do Parlamento na semana que vem, quando precisaria encontrar uma fórmula para governar sem a maioria.

Além da coalizão com partidos menores (o caminho escolhido), ela poderia tentar um acordo de confiança, em que negocia apoio das siglas em troca de políticas –mas elas não recebem cargos no governo, diferentemente da coalizão.

May poderia, por fim, tentar governar em minoria, negociando os votos no Parlamento caso a caso. Mas a posição seria bastante frágil.

O manual parlamentar sugere que, caso May se mostre incapaz de fechar qualquer um desses acordos, ela renuncie e assim abra caminho para o segundo colocado, o Partido Trabalhista. Por ora, a premiê descarta essa possibilidade.

A última vez em que o Reino Unido teve um "Parlamento suspenso" foi em 2010, no que levou à primeira coalizão desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Era a aliança dos conservadores com os liberais-democratas, que dificilmente vai voltar a acontecer.

RECORDE DE MULHERES

Os pedidos para a renúncia de May se concentram na avaliação de que, em primeiro lugar, não deveria ter convocado as eleições –quis ampliar a margem parlamentar quando não precisava.

Sua campanha foi também bastante criticada por, entre outras coisas, ter se mantido distante dos eleitores. Enquanto Jeremy Corbyn mobilizava multidões em seus comícios, May se recusava a participar de debates públicos e na televisão.

Corbyn foi favorecido pelo que parece ser uma alta participação dos jovens, sua base eleitoral. A porcentagem de britânicos entre 18 e 34 anos que votaram subiu 12 pontos em relação a 2015, segundo pesquisas de boca de urna disponíveis -e 60% deles votaram nos trabalhistas.

No total, o comparecimento às urnas no Reino Unido na eleição deste ano foi o maior desde 1997 (69%).

O número de mulheres no Parlamento será recorde: 207 de 650 vagas (em 2015, foram eleitas 196).

O ex-vice-premiê Nick Clegg (liberal-democrata) não conseguiu se reeleger e ficará fora do Parlamento pela primeira vez em 12 anos.

A secretária do Interior, Amber Rudd –que sucedeu Theresa May no cargo–, manteve sua cadeira apenas depois de recontagem. Ela venceu seu oponente no distrito de Hastings & Rye, o trabalhista Peter Chowney, por meros 346 votos de diferença.

Com agências de notícias


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