Folha de S. Paulo


Mobilização de eleitores jovens pode mudar sorte de trabalhistas britânicos

Darren Staples - 20.mai.2017/Reuters
Jeremy Corbyn, the leader of Britain's opposition Labour Party arrives for a campaign event in Birmingham, Britain May 20, 2017. REUTERS/Darren Staples ORG XMIT: DST03
Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, faz campanha em Birmingham

O estudante de medicina Ibrahim Mutlib, 19, está decidido a não repetir o erro que cometeu um ano atrás, no plebiscito sobre o "brexit".

Não tendo votado na consulta do ano passado, desta vez Ibrahim, que lamenta a decisão britânica de sair da União Europeia (UE), pretende votar nas eleições gerais de quinta-feira (8).

O estudante da Universidade de Nottingham sentiu que "não teve voz" na campanha do "brexit". A saída da UE foi decidida por uma maioria de apenas 1,27 milhão de votos.

"Achei que meu voto realmente não contaria. Mas, como a disputa foi tão apertada, me dei conta depois que eu e outros que pensam como eu poderíamos ter tido peso decisivo."

A geração jovem atual é vista há muito tempo como a mais politicamente apática do Reino Unido. Atualmente, ela é um campo de batalha importante na eleição antecipada de 8 de junho.

As pesquisas de intenção de voto sugerem uma divisão de geração no Reino Unido. Quase 3/4 das pessoas de 18 a 24 anos dizem que votarão no Partido Trabalhista em 8 de junho, contra apenas 15% dos maiores de 65 anos, segundo o instituto de pesquisas ICM.

Enquanto isso, o Partido Conservador tem uma vantagem ampla de 44% entre os eleitores de mais de 65, comparado com os eleitores mais jovens (64% versus 20%).

O comparecimento dos eleitores jovens às urnas é um fator importante em uma disputa de resultado imprevisível. Na eleição geral de 2015, o índice de participação dos eleitores de 18 a 24 anos foi o segundo mais baixo da era do pós-guerra, chegando a pouco mais de 40%, metade do índice dos eleitores com 65 anos ou mais.

No plebiscito sobre o "brexit", em que os britânicos jovens tinham tendência desproporcionalmente maior a votar pela permanência na UE, as estimativas iniciais foram que apenas 33% dos jovens de fato foram votar.

A proporção real foi 60%, a maior participação dos eleitores jovens em duas décadas, mas ainda inferior à de todos os outros grupos etários e à média nacional de 72%.

À primeira vista, a eleição desta semana envolve poucas questões que interessam aos eleitores jovens. A campanha curta foi dominada por questões como os gastos sociais com os idosos. Questões específicas relacionadas ao "brexit" estiverem notavelmente ausentes da discussão.

Segundo Oliver Daddow, professor de política na Universidade de Nottingham, os políticos muitas vezes não fazem nenhum esforço para dirigir-se diretamente aos jovens sobre questões de grande importância, fato que alimenta a desilusão desses eleitores.

"O melhor exemplo é a alegação de alguns políticos de que Jeremy Corbyn está levando o país de volta aos anos 1970 ou 1980. É um quadro de referência que só será entendido intuitivamente por eleitores mais velhos", disse Daddow.

Baseado em sua experiência lecionando para universitários, Daddow acha que os estudantes estão abertos e interessados em participar, "desde que os políticos se deem ao trabalho de fazer gestos em sua direção e não se dirijam a eles em tom paternalista".

Benedicta Asare, de 22 anos e residente em Londres, vai se diplomar em relações internacionais este ano e faz parte dos jovens politicamente engajados.

Descrevendo-se como integrante dos "48%" que rejeitaram o "brexit", ela se sentiu inicialmente dividida entre o partido Trabalhista e o Liberal Democrata, mas decidiu que um segundo plebiscito, conforme o que é proposto pelo partido de Tim Farron, não seria a melhor solução para o país.

"A saída da UE vai ajudar a fazer os políticos focarem sobre problemas domésticos, como o atendimento social e a economia", ela opinou.

Apesar de seu próprio interesse, Benedicta detecta apatia entre outros estudantes desde o resultado do plebiscito sobre o "brexit".

"Para alguns, o fato de que vamos sair da UE cria a impressão de que o resultado da eleição não vai fazer diferença, seja qual for."

Há fatores mais prosaicos que também podem prejudicar o comparecimento dos eleitores jovens às urnas.

Muitos estudantes estão inscritos para votar no campus de sua universidade, mas a eleição acontece em um dia que não faz parte do ano letivo. O prazo final para a inscrição dos eleitores foi no mês passado, no meio da época de exames nas universidades de todo o país.

Mas há um fator inesperado que vem energizando os jovens nesta campanha: Jeremy Corbyn, o líder trabalhista de 68 anos que é deputado há 34 anos.

A ênfase que ele dá à justiça social e sua promessa de abolir o pagamento de mensalidades universitárias estão atraindo um contingente de eleitores muitas vezes visto como tendo preguiça de votar.

Para Ibrahim e seus amigos, que recebem suas notícias principalmente do Facebook, Corbyn defende as causas mais importantes para os estudantes.

"Em todo o campus estamos ouvindo as pessoas dizendo que se inscreveram para votar. Se nós, jovens, realmente queremos ter voz em alguma coisa, precisamos votar", ele concluiu.

Tradução de CLARA ALLAIN


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