Folha de S. Paulo


Colômbia e Farc violaram acordo de paz 10 vezes em 4 meses, diz relatório

O governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) se envolveram em dez violações ao acordo de paz desde fevereiro, quando começou a desmobilização dos guerrilheiros, informou o órgão que monitora o pacto nesta terça-feira (6).

O Mecanismo de Monitoração e Verificação do cessar-fogo e da entrega de armas, compostos pelas duas partes e a ONU, verificou que houve quatro descumprimentos do acordo, três violações leves e outras três graves.

Jaime Saldarriaga/Reuters
Soldado colombiano faz guarda em área antes ocupada pelas Farc no departamento de Meta
Soldado colombiano faz guarda em área antes ocupada pelas Farc no departamento de Meta

No último caso, a mais grave é a de um guerrilheiro que estuprou duas crianças, de três e nove anos, numa das áreas de desmobilização das Farc em Vidrí, no departamento de Antioquia, em 9 de maio.

No dia 31, foi a vez de o governo violar o acordo quando um carro do Exército entrou em uma zona de transição em San José de Guaviare. Os membros das Farc reagiram com tiros e um militar ficou ferido.

As autoridades voltariam a quebrar com o pacto no sábado (3) quando um helicóptero sobrevoou mais um campo de desmobilização para a troca de militares de um destacamento no departamento de Norte de Santander.

Nesta zona estava o líder da guerrilha, Rodrigo Londoño, conhecido como Timoleón Jiménez ou Timochenko, que reclamou do sobrevoo. O acordo é divulgado após quatro dias de tensão entre o governo e as Farc.

Além da aproximação do helicóptero militar, dois guerrilheiros foram presos pela polícia em Bogotá enquanto faziam atividades relacionadas com o acordo. Timochenko chegou a ameaçar com o atraso na entrega das armas, prevista para terminar no dia 20.

Eles foram liberados no domingo (4). O mal-estar voltou em menos de 24 horas quando o procurador-geral, Néstor Humberto Martínez, disse que o governo prepara um decreto sobre a entrega dos bens das Farc.

Segundo Martínez, a previsão é que todos os ativos obtidos de forma ilícita devem ser apreendidos para pagar as indenizações das vítimas do conflito —as Farc desejam parte do valor para financiar sua atividade política.

Ele diz ter documentos que verificam a posse de 3.389 bens, avaliados em 1,1 trilhão de pesos (R$ 1,24 bilhão). Na lista há imóveis urbanos e rurais, estabelecimentos comerciais, empresas, veículos e dinheiro em espécie.

O negociador-chefe das Farc, Iván Márquez, negou a existência do patrimônio e acusou Martínez de querer sabotar o acordo de paz —desde o início o procurador-geral foi contra o pacto entre o governo e os guerrilheiros.


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