Folha de S. Paulo


Caso Odebrecht leva tio de vice do Equador para prisão domiciliar

A Lava Jato brasileira, em seu braço Odebrecht, sacudiu neste sábado (3) a política do Equador: durante a madrugada, a Justiça do país ordenou a prisão domiciliar do empresário Ricardo Rivera, tio do vice-presidente Jorge Glas, e a prisão preventiva de cinco pessoas ou ex-funcionários do governo de Rafael Correa ou envolvidos em obras desse período.

O pedido de prisão domiciliar deve-se à idade de Rivera, 68 anos. Além disso, a Justiça determinou que ele use uma tornozeleira eletrônica para ser monitorado constantemente.

Correa acaba de entregar a Presidência a Lenín Moreno, depois de 10 anos de gestão, e o impacto político das detenções ficou exposto pelo próprio Glas: minutos antes de se iniciar o primeiro Gabinete Itinerante chefiado por Lenín Moreno, seu vice tuitou que um familiar seu estava sendo investigado.

Santiago Armas/Xinhua
Jorge Glas, vice do Equador, chega com mulher e filhos para a posse do presidente Lenín Moreno
Jorge Glas, vice do Equador, chega com mulher e filhos para a posse do presidente Lenín Moreno

Emendou: "Que a Justiça investigue e puna tudo. Na Revolução Cidadã [rótulo inventado por Rafael Correa para seu movimento] ninguém está acima da lei. Continuaremos combatendo a corrupção da Odebrecht".

O próprio presidente referiu-se aos episódios, igualmente em um tuíte: "Estamos dando todo nosso respaldo à Função Judicial na luta contra a corrupção. (...) Todos envolvidos no caso Odebrecht devem responder à Justiça".

O caso Odebrecht no Equador se assemelha ao envolvimento da empresa no que ela própria qualificou de "práticas impróprias" no Brasil: propinas a funcionários públicos e/ou de estatais, para obter contratos de obras públicas.

Na quinta-feira (1º) a Folha publicou que o então presidente Correa teria recebido dinheiro ilegal da Odebrecht para sua campanha eleitoral. Correa, como todos os envolvidos nos muitos escândalos da Odebrecht mundo afora, nega qualquer irregularidade.

As prisões da sexta-feira (2) se devem, ao que tudo indica, às informações que a força-tarefa da Lava Jato no Brasil teria passado ao Procurador Geral equatoriano, Carlos Baca, que viajou ao Brasil no dia 30 de maio.
Rivera, o tio do vice-presidente, é também dono de um canal de TV (TV Satelital) e foi superintendente da Comunicações quando o hoje vice Jorge Glas presidia o Fundo de Solidariedade, já extinto.

Além dele foram presos Kleper Verduga, da empresa Equitransa, que tocou vários projetos da gestão Correa, como as hidrelétricas de Manduriacu e de San Francisco; Carlos Villamarín, ex-funcionário do Ministério da Habitação; Rubén Terán, durante 12 anos prefeito da cidade de Latacunga; e o empresário Gustavo Massuh.

O procurador Baca informou que há outros envolvidos mas que têm foro privilegiado, por serem funcionários da atual administração. Ele volta ao Brasil na próxima semana.

A oposição, como é natural, ficou excitada pelas detenções e está pedindo mais. Guillermo Lasso, por exemplo, candidato derrotado por Lenín Moreno no segundo turno, exige a lista completa que estaria em poder de Baca, no que seria a versão equatoriana da chamada "lista de Fachin" no Brasil.

Pede "tolerância zero" com a corrupção.

Não faltaram no Equador, como no Brasil, malas com dinheiro.

Na casa de Verduga, por exemplo, foram confiscadas cinco caixas fortes, jóias, ao menos oito automóveis de luxo e USS$ 190 mil em dinheiro vivo (R$ 617 mil).

Em outra operação, em casa de proprietário não informado, os policiais encontraram um cheque da Odebrecht de US$ 980 mil (R$ 3,1 milhões).


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