Folha de S. Paulo


Às vésperas de eleição britânica, oposição reduz vantagem de May

A dez dias da eleição britânica, as pesquisas apontam uma mudança de cenário e indicam a possibilidade de uma reviravolta: a vitória da primeira-ministra conservadora Theresa May, que parecia garantida por grande margem, seria apertada se a votação fosse hoje.

E se os trabalhistas de Jeremy Corbyn seguirem crescendo no ritmo dos últimos dias, poderão ultrapassar os governistas no dia 8 de junho.

Darren Staples - 20.mai.2017/Reuters
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, é recebido por militantes em evento em Birmingham
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, é recebido por militantes em evento em Birmingham

Quando anunciou a antecipação das eleições gerais previstas para 2020, em abril, a primeira-ministra disse que precisava de um claro apoio popular para negociar as condições do "brexit" (a saída da União Europeia, decidida em plebiscito no ano passado), em lugar da apertada maioria que tinha no Parlamento.

A primeira pesquisa divulgada no final de abril mostrava a atual governante com 61% de aprovação pessoal e o partido com 49% das intenções de voto (contra 26% dos Trabalhistas). A jogada, então, pareceu genial, e a eleição seria um passeio.

Theresa May concentrou o discurso em sua personalidade, uma líder com a firmeza necessária para enfrentar as negociações com a Europa. Preparou uma campanha ao estilo das presidenciais, como americana ou francesa, centradas na imagem dos candidatos e não no partido.

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Ipsos-MORI - Em %

Ela apostava as fichas na impopularidade do líder Trabalhista, Corbyn, que só 23% dos eleitores consideravam preparado para governar.

Tudo começou a mudar, porém, quando saíram os programas de governo.

Primeiro, Corbyn fez um manifesto mais à esquerda do que o discurso do partido nas últimas eleições. "Agitou a bandeira vermelha", disse um jornal conservador: propôs aumentar impostos de quem ganha mais que o equivalente a R$ 25 mil por mês, reestatizar linhas férreas e companhias de energia, aumentar o orçamento de saúde e educação e cancelar as taxas universitárias (recentemente, sob o governo conservador, todas as faculdades do país passaram a ser pagas). Priorizou as questões locais, deixou o "brexit"em segundo plano.

Uma semana depois, ao anunciar o seu programa, Theresa May incluiu propostas tradicionais dos trabalhistas, como aumentos de gastos com saúde e educação, procurando se distanciar da imagem de seu partido.

Disse que não iria "se voltar para a direita". Tentou conquistar, além dos seus fiéis, parte dos eleitores da oposição. Teve ainda que deixar o "brexit" de lado, ao menos por ora, ao constatar que o eleitor não estava decidindo o voto de olho na Europa.

Foi um tiro no pé: até deputados de seu partido criticaram o movimento, foi vista como tíbia pelos analistas e não tirou votos trabalhistas.

IMAGEM

No último fim de semana, uma pesquisa publicada pelo jornal "Observer" apontou diferença de apenas dez pontos entre os dois partidos (45% a 35%). E o mais surpreendente: a imagem da primeira-ministra piorou (37% dos eleitores dizem que perderam confiança nela), e a de Corbyn melhorou (39% dizem que confiam mais nele).

O sistema político britânico é parlamentarista e o eleitoral, distrital; as pesquisas nacionais de intenção de voto não expressam exatamente a composição do Parlamento. Mas já se pode dizer que os trabalhistas deverão sair das urnas maiores do que se previa há um mês. Já para os conservadores, é muito difícil alterar toda a estratégia de campanha na reta final.


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