Folha de S. Paulo


Com aceno ao diálogo, Lenín Moreno toma posse em um Equador em crise

Quando receber a faixa presidencial na manhã desta quarta (24), no Palácio de Carondelet, em Quito, o novo presidente do Equador, Lenín Moreno, terá como principal desafio transformar seu evasivo discurso de campanha sobre "diálogo" e "conciliação" em ações concretas para construir consenso numa sociedade dividida.

Em eleição contestada pela oposição, o esquerdista ganhou por margem pequena (51,1% contra 48,8% do conservador Guillermo Lasso).

Juan Cevallos - 16.mai.2017/AFP
O presidente eleito do Equador, Lenín Moreno, recebe seu diploma eleitoral na Assembleia Nacional
O presidente eleito do Equador, Lenín Moreno, recebe seu diploma eleitoral na Assembleia Nacional

Além disso, chega ao poder com uma maioria na Assembleia Nacional (unicameral) menor do que a da gestão passada, o que o obrigará a buscar apoios para fazer avançar seu projeto de medidas para enfrentar um cenário econômico desfavorável.

Para seu antecessor, Rafael Correa, que deixa o cargo após dez anos, Moreno tem a missão de levar adiante "a resistência contra a onda conservadora" na região, que identifica nos novos governos de Argentina, Brasil e Peru.

Apesar de ter feito propostas de ampliação do gasto social em novos programas de moradia e de acesso à saúde, Moreno, 64, assume um país em situação complicada.

Já vão longe os tempos de "boom das commodities", que fizeram com que o país crescesse até 8% ao ano.

Agora, a previsão do FMI para 2017 é que o PIB do país tenha um encolhimento de 2,7%. Além disso, o Equador também se encontra muito endividado, em cerca de 38% de seu Produto Interno Bruto, quase atingindo o teto do que permite a Constituição do país, de 40%.

Uma das primeiras medidas de Moreno deve ser reduzir gastos do Estado, como a Secretaria do Viver Bem, que tinha status de ministério e um orçamento de US$ 25,6 milhões para ações que eram basicamente usadas como propaganda.

Moreno anunciou ainda que manterá a política de impostos —que causou a perda do apoio do governo entre as classes média e alta— sobre transações imobiliárias e heranças, além de incremento em outras taxas, alegando que isso é necessário para não cortar benefícios sociais aos mais pobres.

Por outro lado, o novo presidente terá como missão também apaziguar os ânimos de parte do movimento indígena organizado que, nos últimos anos, passou do apoio à rebeldia contra Rafael Correa por causa de concessões que este fez a empresas de mineração chinesas no país.

ODEBRECHT

Outra das cobranças do eleitorado equatoriano durante a campanha foi a da investigação dos casos de corrupção cujas denúncias vêm se acumulando nos últimos meses, e que envolvem a construtora brasileira Odebrecht e a estatal Petroecuador, entre outras.

Segundo o Departamento da Justiça dos EUA, a empresa brasileira teria pago US$ 33 milhões (R$ 108 milhões) em propinas no país andino.

De perfil mais moderado e conciliatório, Moreno, que usa cadeira de rodas desde que levou um tiro nas costas em 1998, afirma que as políticas de Correa continuarão.

"A diferença será apenas de estilo. Quando Rafael assumiu, o país estava desorganizado e precisava de alguém com seu estilo mais confrontador. Comigo se pode conversar mais", afirmou, em entrevista recente.

A pergunta que fica no ar é o quanto Correa ainda será influente na atual gestão.

O vice de Moreno, Jorge Glas, é um homem de confiança do "correísmo". Para formar seu gabinete de ministros, Moreno promete misturar figuras da gestão anterior a novos nomes do partido Alianza País, segundo ele, porque é preciso "modernizar" a renovação do "Socialismo do Século 21", como Correa denominou sua gestão.


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