Folha de S. Paulo


Trump deve apresentar plano 'supremo' de paz em Israel

Quando Donald Trump for a Israel e à Cisjordânia na segunda-feira, na segunda escala de sua primeira viagem oficial ao exterior, terá oportunidades de sobra para projetar uma imagem presidencial, deixando para trás as dúvidas e os escândalos que cercam sua administração.

Seu itinerário vai incluir uma visita ao museu memorial do Holocausto, o Yad Vashem, para uma cerimônia em que deixará uma coroa de flores no local, e um discurso em Jerusalém no qual a previsão é que ele apresente um caminho para o que descreveu como o acordo de paz "último", tendo o respaldo de aliados no mundo árabe sunita.

Saul Loeb/AFP
Donald Trump brinca com a formanda Erin Reynolds na graduação da Guarda Costeira em New London, Connecticut
Donald Trump brinca com a formanda Erin Reynolds na graduação da Guarda Costeira em New London, Connecticut

A visita, cujos detalhes foram traçados minuciosamente pela Casa Branca e seus anfitriões locais, vai permitir a Trump retomar o manto de presidentes passados, procurando fazer diplomacia de alto nível em um dos conflitos mais irredutíveis do mundo. Barack Obama foi o último presidente americano a visitar Israel, em março de 2013.

Mas o itinerário de Trump, que incluirá paradas em sítios religiosos judaicos e cristãos na Cidade Velha de Jerusalém, não exclui o potencial de gafes por parte do presidente.

Palavras ou gestos equivocados podem ter consequências duradouras em um conflito nacional delicado dotado de matizes religiosas, como já descobriram presidentes americanos passados que procuraram promover o processo de paz.

"É a primeira viagem oficial de Trump, e a Casa Branca é inexperiente e se encontra em estado de caos", comentou Dan Shapiro, ex-embaixador dos EUA em Israel no governo de Obama e membro visitante sênior da entidade israelense Instituto de Estudos de Segurança Nacional. "A questão é se eles conseguirão dar conta."

Trump está previsto para chegar na segunda-feira. Depois de reunir-se com o presidente israelense, Reuven Rivlin, ele deve visitar a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e o Muro das Lamentações.

Presidentes americanos passados evitaram visitar a Cidade Velha, pelo fato de estar situada em Jerusalém oriental, que Israel reivindica como parte de sua capital indivisa, mas que a comunidade internacional reconhece como território ocupado, fato que gera questões protocolares em torno da participação de políticos israelenses. A visita à Cidade Velha está sendo descrita como sendo de natureza particular e não foi incluída em uma cópia do itinerário de Trump distribuída pelo governo de Israel.

A visita se dará em um momento de alta tensão política na região, em meio a uma greve de fome de prisioneiros palestinos que vem suscitando protestos de rua, além da proximidade do cinquentenário da Guerra dos Seis Dias, no início de junho, uma data carregada de simbolismo.

A polícia israelense pretende posicionar 10 mil agentes, incluindo unidades de contraterrorismo e à paisana, em Jerusalém e todo o país durante os dois dias da visita de Trump.

Na terça-feira Trump viajará a Belém para se reunir com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e, segundo a Casa Branca, "transmitir o interesse da administração americana em mediar um acordo que ponha fim ao conflito".

Em seguida Trump retornará a Jerusalém e fará um discurso no Museu de Israel. A Casa Branca pediu originalmente que Trump fosse autorizado a fazer seu discurso no sítio histórico do monte Masada, no deserto do mar Morto, um pedido que suscitou espanto em Israel. A temperatura na área em maio passa dos 30ºC, e as autoridades israelenses proíbem pousos de helicópteros no cume da montanha.

A decisão de Trump de visitar o Yad Vashem, uma parada feita regularmente por líderes mundiais, está sendo bem recebida pelos israelenses, à luz de acusações de antissemitismo feitas a alguns dos partidários e membros da administração do presidente americano, que omitiram qualquer menção aos judeus de uma declaração oficial em janeiro marcando o Holocausto.

Deixando Trump de lado, a visita também pode ser politicamente delicada para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que se aliou estreitamente ao presidente americano e deve jantar com a comitiva de Trump na segunda-feira. A Casa Branca não tem se mostrado tão incondicionalmente pró-Israel quando a direita israelense foi induzida a crer durante a campanha de Trump, deixando o líder israelense, que cumpre seu quarto mandato, vulnerável a ataques de políticos rivais de direita.

Funcionários da administração americana desmentiram recentemente a expectativa de que Trump vá anunciar a transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, algo que ele prometeu fazer mas que líderes palestinos e árabes avisaram que correria o risco de inflamar a violência e prejudicar as chances de paz.

Trump também exortou Israel a frear a construção de novas casas nos assentamentos, ecoando avisos lançados por presidentes passados sobre algo que os palestinos descrevem como um dos grandes obstáculos à paz.

"Nos últimos 12 meses Donald Trump fez algumas declarações muito positivas, como a de que 'vamos transferir nossa embaixada'", disse ao FT Naftali Bennett, ministro da Educação de Israel e presidente do partido de extrema direita e pró-assentamentos Lar Judaico, membro da coalizão de Netanyahu.

"Ele foi muito positivo em relação às comunidades judaicas, às comunidades israelenses na Judeia e Samária", disse Bennett, aludindo aos assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada. "Nos últimos meses surgiu a sensação de que algo pode ter mudado, e a origem dessa mudança não está clara."

Muitos israelenses e palestinos acham que o processo de paz não tem mais chances de ser resgatado. Mas alguns expressam otimismo cauteloso, dizendo que Trump pode pelo menos trazer algumas ideias novas para a mesa e romper a barreira erguida pelas "ortodoxias calcificadas", na visão deles, existentes de ambos os lados.

A maioria dos observadores da visita de Trump se prepara para surpresas.

"O clima entre o público vai ser como o de uma corrida de Nascar: as pessoas estão na expectativa da corrida, mas também do desastre", disse Shapiro, o ex-embaixador americano. "Esperemos que não haja desastre."

Tradução de CLARA ALLAIN


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