Folha de S. Paulo


Turbulência na política brasileira já preocupa governo de Mauricio Macri

O governo de Mauricio Macri iniciou a semana disposto a dar apenas boas notícias sobre a economia para os argentinos. Primeiro, lançou um site interativo dedicado a mostrar todos os anúncios de novos investimentos, internos e externos, por setor e por região do país.

O montante apresentado é animador, de cerca de US$ 60 bilhões, e supera o dos últimos anos do kirchnerismo.

Andressa Anholete - 7.fev.2017/AFP
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, participa de encontro com Michel Temer em fevereiro
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, participa de encontro com Michel Temer em fevereiro

Depois, o presidente e um time de 130 empresários voaram para uma ambiciosa turnê que passou pelos Emirados Árabes, China e Japão. Do Oriente, dia após dia, vinham chegando notícias de expansão de investimentos já existentes, novos projetos e abertura de mercados em países a que antes os produtos argentinos não chegavam.

Hoje, 4 dos 8 principais destinos das exportações argentinas são asiáticos (China, Vietnã, Índia e Indonésia). Há dez anos, apenas a China figurava nessa lista.

Macri até almoçou com o jogador Carlos Tevez, hoje estrela de um time chinês, apresentando-o como uma espécie de embaixador desta nova Argentina disposta a ampliar seus negócios na região.

Editoria de Arte/Folhapress

BRASIL

Até que, na última quarta-feira (17), o escândalo que abalou o Brasil, com a divulgação da delação que afirma que o presidente Michel Temer teria pago pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, começou a ecoar do lado de cá do rio da Prata.

Oficialmente, o tom do governo foi comedido. A chanceler Susana Malcorra disse que a Argentina confia nas "instituições do Brasil" e que "não queria adiantar-se aos acontecimentos". Porém, pontuou que os "sinais de que a economia brasileira vinha melhorando eram importantes para nós e essa crise pode nos afetar".

Analistas ouvidos pela Folha creem que uma piora no quadro econômico brasileiro e um aumento na instabilidade política no país vizinho podem impactar negativamente no desempenho econômico da Argentina.

"São muitos os fatores que contam para que a economia argentina desponte: é preciso melhorar o investimento estrangeiro, aumentar o consumo, baixar a inflação, corrigir a situação fiscal, derrubar travas que ainda existem. Mas, sobretudo, precisamos que o Brasil volte a crescer. Um Brasil que volte à recessão ou que entre em nova fase de turbulência política é ruim para a Argentina e para a região", disse o consultor Marcelo Elizondo.

Para o economista Luis Palma Cané, a incerteza sobre o futuro político e econômico do Brasil "pode impactar no aumento do risco-país de ambos".

Já Dante Sica considera que "o caminho de retomada do crescimento argentino já se anunciava longo, mas a melhora no Brasil vinha colaborando. Para cada ponto que o Brasil cai ou cresce, a Argentina cai ou cresce 0,25. Se a retomada do crescimento brasileiro demora, isso nos afeta diretamente, especialmente no que se refere ao setor automotivo", afirmou.

Sica acrescenta que a crise brasileira pode, ainda, alimentar um clima geral de desânimo. "O retorno do crescimento brasileiro, ainda que lento, havia gerado uma imensa expectativa", concluiu.


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