Folha de S. Paulo


Demissão de chefe do FBI tirou 'grande pressão', afirmou Trump a russos

O presidente Donald Trump disse ao chanceler russo, Sergei Lavrov, durante encontro no Salão Oval, no último dia 10, que a demissão do diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, na véspera, havia tirado uma "grande pressão" que ele sofria "por causa da Rússia".

Russian Foreign Ministry via AP

A informação foi divulgada pelo "New York Times", com base num documento interno da Casa Branca que resume a reunião. Segundo o jornal, um funcionário leu para a reportagem o conteúdo do relatório, ao qual o "Times" não teve acesso.

"Eu acabei de demitir o chefe do FBI. Ele era louco, um verdadeiro maluco", disse Trump, segundo o documento. "Eu estava sob grande pressão por causa da Rússia. Isso agora acabou."

O presidente teria afirmado ainda a Lavrov que não estava sob investigação do FBI.

Se confirmado, o conteúdo da conversa comprova que o real motivo da demissão de Comey foi a sua postura em relação à investigação sobre possíveis ligações entre membros da equipe de Trump e Moscou durante a campanha.

A justificativa oficial da Casa Branca para a saída de Comey, no último dia 9, foi a forma "errada" como ele conduziu a investigação sobre o uso indevido de e-mails pela ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, que disputou a Presidência com Trump.

Na carta em que recomenda a demissão do então diretor do FBI, o vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, citou a decisão tomada por Comey, em julho de 2016, de não recomendar o indiciamento da democrata.

Comey, no entanto, também estava à frente da investigação sobre a possível influência do governo russo nas eleições de 2016 –e de supostos elos de Moscou com assessores de Trump.

Na carta em que dispensa o diretor, o próprio presidente sugere que essa questão foi relevante na decisão. "Mesmo que eu aprecie muito o fato de você ter me informado, em três ocasiões distintas, que eu não estou sob investigação, eu concordo com a avaliação do Departamento da Justiça de que você não está apto a liderar efetivamente o bureau (FBI)", escreveu Trump.

O presidente também afirmou também, em entrevista a uma rede americana, que estava pensando "nessa coisa da Rússia" ao demitir Comey.

No mesmo encontro, segundo o "Washinton Post", Trump teria revelado a Lavrov informação altamente confidencial sobre uma potencial ameaça do Estado Islâmico. Segundo o jornal, o chanceler e o embaixador russo, Sergey Kislyak, foram informados pelo presidente "detalhes de uma ameaça terrorista do EI relacionada ao uso de laptops em aviões".

A informação teria sido passada aos Estados Unidos pela inteligência de Israel -e repassada por Trump aos russos sem a permissão do governo israelense.

Segundo a Casa Branca, a conduta do presidente foi "totalmente apropriada" e não comprometeu "de forma alguma" qualquer fonte ou método de inteligência.

'ESTARDALHAÇO'

Em nota, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Comey havia colocado uma pressão "desnecessária" na capacidade do presidente de conduzir os contatos diplomáticos com a Rússia em temas como Síria, Ucrânia e o Estado Islâmico.

"Ao fazer estardalhaço e politizar a investigação sobre as ações da Rússia, James Comey criou uma pressão desnecessária na nossa capacidade de se relacionar e negociar com a Rússia", disse. "A investigação teria continuado, e, obviamente, a demissão de Comey não teria acabado com ela."

POPULARIDADE

Pesquisa Reuters-Ipsos divulgada nesta sexta-feira mostra a popularidade de Donald Trump no ponto mais baixo desde sua chegada à Casa Branca, em janeiro, com 38% de aprovação e 56% de desaprovação. Outros 6% manifestaram ambivalência.

Segundo a pesquisa, conduzida com 1.971 pessoas de domingo (14) a quinta (18) e com intervalo de credibilidade de 3 pontos percentuais, 23% dos republicanos desaprovam o presidente, contra 16% na enquete anterior.


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