Folha de S. Paulo


Irã vota para presidente pensando no acordo nuclear e na economia

Os iranianos se encaminharam às urnas nesta sexta-feira (19) para escolher um presidente em uma votação que pode intensificar o engajamento do Irã com o planeta ou arremessar o país de volta ao isolamento diplomático.

Na eleição, está em jogo o legado do atual presidente como líder que conseguiu o fim de sanções que duraram mais de uma década, em um acordo nuclear com as grandes potências mundiais.

A disputa opõe o presidente Hasan Rowhani, moderado, a Ibrahim Raisi, o candidato oposicionista, um líder religioso conservador. De 1981 para cá, nenhum presidente iraniano fracassou em uma tentativa de reeleição, mas Rowhani enfrenta pesadas críticas devido aos problemas econômicos do país e à posição, classificada por Raisi como "fraca", que ele adotou em suas negociações com o Ocidente.

O acordo nuclear –que restringe o programa nuclear iraniano em troca de redução nas sanções contra o país– tinha posição central no projeto de Rowhani para tirar o país do isolamento e reintegrá-lo na economia mundial. Se reeleito, ele terá de encarar a postura mais hostil do governo de Donald Trump, que adotou linha dura contra o Irã e já colocou o acordo nuclear em revisão.

Rowhani considera que o Irã está se beneficiando da melhora no relacionamento com o Ocidente, e continua a cortejar investidores estrangeiros. Mas até o momento, o acordo não causou grande melhora na vida dos iranianos comuns, e Raisi aproveitou o descontentamento causado por isso e montou uma campanha de tom populista.

O líder da linha dura religiosa, antigo jurista, prometeu aumentar a ajuda governamental aos pobres e criar mais de um milhão de empregos em seu primeiro ano de governo. Sua popularidade parecia estar em alta nos dias finais da campanha.

Embora critique a maneira pela qual Rowhani conseguiu o acordo nuclear, Raisi ainda assim prometeu que o manterá.

Na sexta-feira, Raisi, Rowhani e o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, foram às urnas nas primeiras horas de votação. A mídia social e a televisão estatal iraniana mostraram imagens de longas filas de eleitores em cidades como Teerã, Kermanshah e Mashhad. Mais de 56 milhões de iranianos têm direito ao voto.

"Não importa quem seja eleito, o vencedor da eleição é o povo iraniano", disse Khamenei no começo da semana, quando ele lançou um apelo para que os eleitores fossem às urnas.

Eleições Irã

Depois de votar, Rowhani apelou aos iranianos que se unam em torno de quem quer que venha a ser eleito.

"Qualquer candidato que seja eleito deve ser ajudado a exercer sua pesada responsabilidade", declarou Rowhani, de acordo com a agência de notícias Associated Press.

O Irã é governado por um órgão religioso chamado Conselho de Orientação, sob a presidência de Khamenei. Khamenei e o conselho têm a última palavra sobre as questões de Estado.

Mas continuam a existir eleições para postos governamentais importantes, entre os quais a Presidência. As disputas são sempre muito controversas e competitivas, e atraem milhares de pessoas a comícios realizados em todo o país.

Até mesmo o major-general Ali Jafari, comandante da milícia iraniana Basij, conhecida pela brutalidade que exibe na repressão a manifestações, foi fotografado votando, na sexta-feira.

"Participar da eleição é minha responsabilidade nacional", disse Amin, um morador de Teerã, à TV estatal iraniana, em sua seção eleitoral na sexta-feira.

A votação começou às 8h e se estenderá até as 18h. As autoridades informaram, no entanto, que o horário de votação pode ser estendido caso o comparecimento de eleitores seja muito alto.

Eleições Irã

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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