Folha de S. Paulo


Trump demite diretor do FBI após erro em declaração sobre e-mails de Hillary

Joshua Roberts/Reuters
James Comey (FBI) em audiência no Comitê de Inteligência da Câmara, em Washington, sobre a suposta intromissão russa nas eleições
James Comey (FBI) em audiência no Congresso

O presidente Donald Trump demitiu nesta terça (9) o diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, que chefiava investigações sobre integrantes da campanha de Trump e sua suposta ligação com a Rússia.

Comey também supervisionava o inquérito sobre uso indevido de e-mails pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que disputou a Presidência com Trump.

O diretor soube da demissão enquanto discursava a funcionários do FBI em Los Angeles por meio do noticiário exibido nas TVs do local –os repórteres foram informados antes de a carta do presidente ser entregue na sede do órgão em Washington.

O carro que o levou ao aeroporto, para voltar à capital, foi acompanhado pelos canais de televisão ao vivo.

Ainda não está claro o motivo da demissão abrupta. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, a decisão de Trump segue a recomendação do secretário da Justiça, Jeff Sessions, e de seu vice, general Rod Rosenstein.

Horas antes, o FBI havia enviado ao Congresso uma correção de declarações oficiais de seu então diretor sobre os e-mails de Hillary, segundo as quais uma auxiliar da ex-chanceler passara ao marido "centenas de milhares de e-mails", incluindo alguns confidenciais.

O órgão depois afirmou que encontrou apenas um pequeno número de mensagens no laptop do ex-deputado Anthony Weiner, investigado em um escândalo sexual.

A Casa Branca divulgou cartas de Rosenstein e Sessions a Trump, datadas desta terça, pedindo a demissão. Nenhuma delas, porém, cita a correção feita pelo FBI sobre as declarações de Comey.

Rosenstein argumentou que a decisão do diretor do FBI de não recomendar o indiciamento de Hillary, em 2016, após investigar o uso de um e-mail particular para tratar de assuntos do Departamento de Estado foi "errada".

O vice-secretário da Justiça cita ainda declarações de Comey à imprensa sobre o caso naquele ano, "ignorando" o princípio do Departamento de Justiça –ao qual o FBI está subordinado– de não divulgar informações sobre investigações criminais.

Para Rosenstein, ele "usurpou a autoridade" do secretário de Justiça ao anunciar que o caso seria encerrado.

A carta de Trump comunicando a Comey sua demissão, no entanto, sugere que a investigação que o diretor do FBI conduzia sobre a possível relação de membros de sua equipe com a Rússia possa ter influenciado a decisão.

"Mesmo que eu aprecie muito o fato de você ter me informado, em três ocasiões distintas, que eu não estou sob investigação, eu concordo com a avaliação do Departamento da Justiça de que você não está apto a liderar efetivamente o bureau (FBI)", escreveu Trump.

O presidente ainda afirmou ser necessário encontrar um novo diretor para o FBI que "restaure a confiança pública" na sua "missão vital de aplicação da lei".

O posto será ocupado interinamente por Andrew McCabe, que era o número dois do FBI. O sucessor terá que ser confirmado pelo Senado.

No Congresso, a decisão foi recebida com apreensão inclusive entre republicanos. "Estou preocupado com o 'timing' e a razão da demissão do diretor Comey", disse Richard Burr, republicano presidente do Comitê de Inteligência do Senado.

Trump apontará o responsável por conduzir, a partir de agora, as investigações sobre possíveis ligações de seus assessores com o governo de Vladimir Putin, suspeito de interferir nas eleições americanas de 2016.

Os líderes democratas já começaram a exigir, nesta terça, que um promotor independente seja apontado para ficar à frente da investigação envolvendo o governo.

O senador democrata Ron Wyden, membro da Comissão de Inteligência, disse que Comey deverá ser levado ao Congresso para revelar em que pé estavam as investigações sobre os assessores do republicano até sua demissão.


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