Folha de S. Paulo


Tecnologia deixa censura a jornalistas mais complexa e sofisticada, diz ONG

Tida como potencial aliada da liberdade de expressão, a tecnologia não acabou com a censura, só a tornou mais complexa e sofisticada, diz a edição 2017 do relatório da ONG americana CPJ (Comitê de Proteção aos Jornalistas).

A publicação descreve como governos, narcotraficantes e até facções terroristas têm usado a internet para atacar o direito à informação.

Yasin Akgul - 9.abr.2017/AFP
Mulher segura cartaz com a mensagem
Mulher segura cartaz com a mensagem "O jornalismo não pode ser julgado" em protesto em Istambul

A chamada "repressão 2.0" é apresentada como uma combinação de antigas táticas, como a prisão de jornalistas (que chegou ao recorde de 259 em 2016), a novas, potencializadas pela tecnologia.

Nesse segundo grupo estão o uso de sistemas de controle de informação, o monitoramento digital de críticos —e eventual bloqueio de sua atuação—, e a disseminação de notícias falsas.

"Alguém ainda acredita no mantra utópico de que a informação quer ser livre e que é impossível censurar ou controlar a internet?", questiona Joel Simon, diretor do comitê.

Entre os citados pela ameaça à informação estão, em destaque, China e Rússia.

Moscou, além de lutar contra atuação digital da dissidência ao governo Putin, usa a internet para espalhar propaganda e manipular a opinião pública, diz o relatório.

Já Pequim planeja um sistema de créditos para jornalistas que publicam conteúdo crítico em redes sociais, descreve a pesquisadora Yaquiu Wang. Os que receberem mais pontos podem ser financeiramente penalizados, com empréstimos negados e juros maiores, por exemplo.

Um capítulo é dedicado aos EUA, em meio à preocupação com a disseminação de notícias falsas e com o clima de "hostilidade e intimidação" criado, diz a publicação, pela retórica agressiva do presidente Donald Trump.

O CPJ cita também o uso das novas tecnologias por "forças violentas", como o Estado Islâmico e cartéis de traficantes de drogas, para se comunicar diretamente com o público, livrando-se da intermediação crítica da mídia.

Pelo uso do arsenal repressivo mais conhecido, o governo turco recebe especial atenção especial, uma vez que o país exerce forte controle sobre a mídia e é o que mais prende jornalistas —81 dos 259 detidos, segundo comunicado do CPJ no fim de 2016.

BRASIL

O Brasil também é mencionado, em trecho sobre a violência contra jornalistas.

"Quais as soluções para a censura assassina no México ou em qualquer das dezenas de outras democracias como Filipinas, Paquistão, Nigéria ou Brasil, onde a impunidade no assassinato de jornalistas é incontrolável (...)?"

Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas, houve 161 casos de violência em 2016, sendo duas mortes.


Endereço da página:

Links no texto: