Folha de S. Paulo


Candidato centrista à Presidência da França conquista seguidores no Brasil

"O evento dos franceses?", perguntou a garçonete na entrada de um bar em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. "É só seguir até o fundo."

Em mesas à luz de velas, cerca de 40 pessoas se reuniam na noite de quarta (19) para o último encontro do movimento Em Frente! Brasil antes do primeiro turno da eleição francesa, domingo (23).

Jeremy Ozenne/Divulgação
Apoiadores do centrista Emmanuel Macron em evento no bar Canaille, em Pinheiros, zona oeste de Sao Paulo Credito: Jeremy Ozenne / Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Apoiadores do centrista Emmanuel Macron em evento no bar Canaille, em Pinheiros, zona oeste de SP

Foi a sexta reunião desde novembro, quando o empresário franco-brasileiro Bertrand Chaverot, 48, deu início ao braço local do movimento do candidato centrista à Presidência da França, Emmanuel Macron. Hoje, dos 252 mil cadastrados no Em Frente! em todo o mundo, cerca de 200 estão no Brasil –154 no comitê paulista.

Assim como na França, as fileiras brasileiras misturam eleitores cansados dos tradicionais partidos de esquerda (Socialista) e de direita (Republicanos) àqueles novatos em política, atraídos pelo discurso otimista de Macron.

ELEIÇÃO NA FRANÇA - Pesquisa de intenção de voto no 1º turno, em %

"Chega de cinco anos de direita, cinco de esquerda, cinco de direita, cinco de esquerda. Ele [Macron] é o primeiro com o discurso 'au même temps', ao mesmo tempo", diz Chaverot, que, nas últimas duas eleições, votou no conservador Nicolas Sarkozy e agora vê em Macron alguém com propostas "razoáveis tanto para o empresário como para o empregado".

Aos 39 anos, mesma idade de Macron, o empresário Mathieu Le Roux diz querer um "reset na política". Em quase cinco anos no Brasil, ele afirma que é a primeira vez que se engaja politicamente.

Já o caso de Marie Alasseur, 26, poderia ser usado em panfletos do Em Frente!. Filha de mãe socialista e pai republicano, ela diz ter convencido os dois a votar Macron. "Ele não vai revolucionar o sistema porque já está no sistema, mas ele tem otimismo", diz.

Regis Duvignau - 9,mar.2017/Reuters
Emmanuel Macron, head of the political movement En Marche!, or Onwards!, and candidate for the 2017 presidential election, attends a meeting in Talence near Bordeaux, south-western France March 9, 2017. REUTERS/Regis Duvignau ORG XMIT: DUV16
O centrista Emmanuel Macron, líder nas pesquisas da França

Quem não se convence com o discurso do ex-ministro da Economia do atual governo socialista é Fredéric Laplace, 49, o dono do bar. De esquerda, ele declara voto útil em Jean-Luc Mélenchon, nome da extrema esquerda que hoje aparece 11 pontos à frente do socialista Benoît Hamon.

"Macron se apresenta como novo, mas fez parte do governo François Hollande por cinco anos", justifica Laplace. A ameaça de Mélenchon de tirar a França da União Europeia não o assusta. "Não quero isso [sair da UE], mas é uma forma de dissuasão."

A preferência por Mélenchon, no entanto, não impediu Laplace de abrir seu bar para encontros de apoiadores de Macron, Hamon e até do candidato da direita, François Fillon. "Tenho minhas opiniões, mas gosto do debate." Segundo ele, apenas apoiadores de Marine Le Pen (extrema direita) não o procuraram.

Organizador de cinco encontros com simpatizantes de Fillon em São Paulo, o empresário Bertrand Dupont, 46, aposta no histórico conservador do eleitor francês no Brasil para levar seu candidato ao segundo turno. Em 2012, Nicolas Sarkozy obteve 42% dos votos "brasileiros" no primeiro turno, enquanto Hollande teve 30%. (Na França, foi 28,6% a 27,2%).

Cerca de 14 mil franceses no Brasil (maior número na América Latina sem contar Guiana Francesa e o Caribe francês) podem votar na eleição, que, pelo fuso horário, aqui acontece neste sábado (22).


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