Folha de S. Paulo


Forças de segurança voltam a reprimir protestos contra Maduro na Venezuela

As forças de segurança da Venezuela voltaram a impedir nesta quinta-feira (20) a passagem de manifestantes da oposição contra o presidente Nicolás Maduro, que foram às ruas pela sétima vez em três semanas.

Os adversários do chavista voltam a se mobilizar um dia depois de reunirem centenas de milhares de pessoas em todo o país e de confrontos levarem à morte de um guarda nacional e dois civis e deixarem 200 feridos.

Embora os líderes opositores tenham clamado por mais gente nas ruas, os atos foram menores que na quarta. Por outro lado, não houve um contraprotesto governista, como ocorreu na maioria das manifestações.

Em Caracas, a Guarda Nacional usou bombas de gás lacrimogêneo, jatos d'água e balas de borracha para dispersar alguns dos atos. Os opositores voltaram a tentar fechar uma autoestrada em diferentes pontos da capital.

Na zona oeste, governada pelo chavismo, eles não chegaram a sair da concentração porque os guardas nacionais alegaram falta de permissão. Cinco dirigentes do Primeiro Justiça (centro-direita), maior partido da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática, foram detidos.

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CRONOLOGIA
A crise na Venezuela

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Morre o presidente Hugo Chávez; Nicolás Maduro, seu vice, assume a Presidência interinamente

abr.13
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fev-mai.14
Série de protestos convocados pelo opositor Leopoldo López deixam 43 mortos; acusado de incitar a violência, López é condenado em 2015 a quase 14 anos de prisão

dez.15
Oposição conquista dois terços das cadeiras da Assembleia Nacional

jan.16
Tribunal Supremo de Justiça declara Legislativo em desacato em anula decisões

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out.16
Justiça declara fraude no recolhimento das firmas, e Conselho Nacional Eleitoral suspende processo do referendo

fev.17
CNE adia pela 2ª vez as eleições regionais, que deveriam ter acontecido em dezembro

mar.17
TSJ suspende imunidade parlamentar e assume as funções do Legislativo; decisão é revertida três dias depois

abr.17
Controladoria-Geral cassa direitos políticos do opositor Henrique Capriles por 15 anos

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Além das forças de segurança oficiais, membros de coletivos (milícias armadas chavistas) e militantes governistas usaram paus, garrafas e pedras para atacarem manifestantes e repórteres do jornal "El Nacional".

Os guardas nacionais também reprimiram manifestações em Maracaibo, segunda maior cidade venezuelana, e San Joaquín (a 147 km de Caracas). O número de feridos e presos nos atos não foi divulgado até o momento.

Enquanto os atos aconteciam, o governo e a oposição ainda reagiam às manifestações e às mortes de quarta. Ainda à noite, a polícia prendeu o suspeito de matar Paola Ramírez, 23, em San Cristóbal (oeste).

O ministro do Interior, Néstor Reverol, disse que Iván Pernía, 32, que teria atirado na cabeça da manifestante, é filiado ao partido Vente Venezuela (extrema direita), integrante mais radical da MUD.

A líder da sigla, a ex-deputada María Corina Machado, criticou a acusação do governo. "Usam o assassinato de uma venezuelana, do qual são responsáveis, para caluniar. Assim é esta ditadura criminosa", disse.

Testemunhas haviam atribuído a morte a coletivos. O Ministério Público ainda investiga as mortes de Carlos Moreno, baleado ao passar por um ato em Caracas, e do guarda nacional San Clemente Barrios nos arredores da capital.

Apesar dos confrontos e das mortes, o dirigente chavista Jorge Rodríguez afirmou que "prevaleceu a paz" na quarta. Para ele, as acusações de repressão "são completamente falsas" e que os opositores não queriam atos pacíficos.

"Provavelmente muitas das das pessoas que protestam com a oposição os seguem para usar o direito legítimo que têm de manifestação, mas não é assim que pensam seus líderes".

REPERCUSSÃO

Organizações e líderes internacionais se disseram preocupados. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu ao governo e à oposição um novo diálogo para dar fim à crise política e à violência nos protestos.

"Pedimos gestos concretos de todos para reduzir a polarização e criar as condições necessárias para enfrentar os desafios do país para beneficiar o povo venezuelano", disse o porta-voz Stéphane Dujarric.

A porta-voz da Chancelaria europeia, Nabila Massrali, defendeu a união "para reduzir a tensão e encontrar soluções democráticas". A Colômbia pediu à ONU que avalie o reforço à Milícia Nacional (força civil oficial venezuelana).

A ONG Anistia Internacional alertou em nota que "a onda de violência e repressão nas manifestações na Venezuela está mergulhando o país em uma crise de difícil retorno que ameaça a vida e a segurança da população".

A oposição usa os protestos como uma forma de pressionar Maduro a convocar as eleições regionais, que deveriam ter ocorrido em dezembro, libertar opositores presos, resolver a crise econômica e aceitar ajuda humanitária.

As reivindicações foram acolhidas pela OEA e de governos críticos ao chavista nas Américas, como os de EUA, Brasil e Colômbia. O presidente considera que seus rivais se aliaram aos americanos para dar um golpe de Estado.


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