Folha de S. Paulo


Palatável, primeiro-genro ganha poder na Casa Branca

"Tudo está simplesmente perfeito! Estou me casando hoje!, tuitou Ivanka Trump no dia 25 de outubro de 2009, pouco antes da cerimônia que a uniu a Jared Kushner. A filha de Donald Trump e de sua ex-mulher Ivana tinha 27 anos, e em poucos dias alcançaria o noivo, então com 28.

A festa, descrita como um "casamento real", reuniu 500 convidados no clube de golfe de Trump, em Bedminster, Nova Jersey. Apelidados pela imprensa de fofocas e celebridades de casal J-Vanka, os cônjuges selavam a união entre duas famílias endinheiradas do mundo imobiliário.

Mandel Ngan - 03.mar.2017/AFP
Senior Advisor to the President, Jared Kushner (L), walks with his wife Ivanka Trump to board Marine One at the White House in Washington, DC, on March 3, 2017. The two are travelling with US President Donald Trump to Florida. / AFP PHOTO / MANDEL NGAN ORG XMIT: MNN009
Jared Kushner e Ivanka Trump caminham nos jardins da Casa Branca

Filho mais velho de Senyl e Charles Kushner, Jared descende por parte do pai de judeus poloneses que fugiram do Holocausto.

Antes do matrimônio, Ivanka, de origem protestante, converteu-se ao judaísmo. Embora tenham surgido dúvidas sobre a metamorfose religiosa, ela é para todos os efeitos uma "ortodoxa moderna", como o marido.

Ninguém presente naquela recepção em Bedminster poderia imaginar que oito anos depois Trump seria presidente dos EUA e que a filha e o genro passariam a fazer parte da equipe de conselheiros da Casa Branca.

Kushner, durante muito tempo um democrata, como seu pai, também passou por uma espécie de conversão –no caso ideológica– antes de tornar-se peça-chave da engrenagem eleitoral do sogro.

Foi ele quem comandou a área digital e a atuação nas redes sociais do candidato midiático que atropelou as previsões e venceu a eleição.

Após participar ativamente da transição, assumiu o posto de conselheiro sênior do presidente. É hoje um nome em alta no círculo de assessores da Casa Branca –ao contrário do ultraconservador Stephen Bannon, o estrategista-chefe, que já perdeu parte do prestígio inicial.

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Bacharel por Harvard em ciência política, com curso de direito e um MBA pela Universidade de Nova York, Kushner comprou, aos 25 anos, o semanário "The New York Observer", fundado em 1987 pelo investidor Arthur Carter –e o transformou num site. A seguir tornou-se CEO dos negócios da família, que detém uma fortuna estimada em US$ 1,8 bilhão.

Tanto ele quanto Ivanka, que foi trabalhar cedo nas empresas do pai e é dona de uma grife de joias, trafegam pelo centro do espectro político e mostram-se sensíveis a temas ligados ao movimento LGBTs e a causas ambientais.

Ao mesmo tempo em que é criticado por usufruir do poder em benefício de seus negócios, o casal J-Vanka é visto por alguns como uma boa influência sobre Trump.

Os dois tentariam atraí-lo para posições políticas mais moderadas, tornando-o menos repulsivo no consenso "do bem", que se tornou item de etiqueta básica em cidades liberais como Nova York.

Abalada com as imagens de crianças sufocadas, Ivanka, segundo disse seu irmão Eric, 33, ao jornal britânico "The Daily Telegraph," aconselhou o pai a retaliar o ditador sírio, Bashar al-Assad, pelo ataque químico que ele supostamente comandou contra civis no dia 4 de abril.

Kushner, por sua vez, também parece estender cada vez mais sua influência no campo da política externa. É apontado como um dos artífices das recentes mudanças de visão do sogro nas relações com o mundo.

Nem todos, contudo, compram a versão do casal "gente boa" que ajuda o país tentando moderar Trump. Dahila Lithwick, editora-sênior da revista "Slate", progressista, é uma das pessoas que consideram essa visão rasa.

"Se Jared Kushner e Ivanka Trump não tivessem papéis formais dentro da Casa Branca, as alegações de que eles estão secretamente orientando o presidente para decisões racionais seriam mais críveis e tranquilizadoras", escreveu ela, lembrando que o governo já retroagiu numa série de medidas, na área ambiental e de direitos LGBTs, do antecessor Barack Obama.

Democratas também têm exercido marcação cerrada sobre Kushner, atingido pelas revelações envolvendo contatos do time de Trump com os russos.

Por outros motivos, ele é alvo, ainda, da desconfiança de conservadores. Para Bannon, o genro do presidente é um democrata que pode arruinar tudo ao tentar afastar o sogro de sua base populista e das promessas de campanha.

O terreno é minado, tratando-se de um membro da família presidencial. Tanto para os adversários quanto para ele próprio: um passo em falso o transformaria em prato cheio para a imprensa e os inimigos –e numa indigestão para Trump.

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O CASAL J-VANKA
(JARED + IVANKA)

Jared Corey Kushner
—10.jan.81 em Livingstone
—Graduado em ciência política (Harvard)

Ivanka Marie Trump
—30.out.81 em Nova York
—Graduada em economia (Univ. da Pensilvânia)

Casamento: 25.out.07
—Filhos: Arabella Rose (5), Joseph (3) e Theodore (1)


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