A tensão entre Coreia do Norte e EUA está chegando a um ponto de não retorno, alerta a China. Após quase 64 anos de ameaças de lado a lado, sempre mais virulentas por parte da dinastia Kim, será a hora do tira-teima?
Em favor do "sim" como resposta, há um fator novo na equação: Donald Trump.
Desde que rasgou sua promessa de isolacionismo ao atacar o governo sírio na semana passada e explodir sua maior bomba não nuclear sobre algumas dúzias de terroristas do Estado Islâmico no Afeganistão na quinta (13), parece ter descoberto as virtudes da "manu militari".
GUERRA |
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Qual o papel do Estado e dos cientistas em projetos de produção de armas |
Ambas as ações serviram a dois propósitos. Primeiro, retiraram momentaneamente a atenção à crise contínua que seu governo vive: nada mobiliza mais os americanos do que uma guerra, ou algo parecido com isso.
Foram também demonstrações de força, ao gosto dos "falcões" do Pentágono. E hoje o regime mais hostil aos EUA é o da Coreia do Norte, como o sempre relutante Barack Obama disse a Trump ao passar o bastão do cargo.
A China, por sua vez, apreende os sinais, com as potenciais disputas com os americanos em águas que considera territoriais suas, ainda que Trump tenha se afastado do discurso contra Pequim.
Some-se a isso os esforços do ditador Kim Jong-un em acelerar seu programa de mísseis e buscar miniaturizar bombas nucleares para equipá-los. Seus modelos de alcance médio, se assim armados, podem pulverizar alvos sul-coreanos, japoneses e americanos na região.
Ao longo dos anos, estabeleceu-se um senso comum de que os Kim se passavam por loucos para assustar, mas que buscavam basicamente seguir no poder. Há a chance de essa hipótese expirar.
Esse consenso sempre foi o esteio do "não" à pergunta sobre a possibilidade de conflito. O regime quis a bomba atômica para evitar ser atacado e fazer barganhas, não para usá-la, diz o raciocínio.
O "não" tem outros argumentos sólidos, a começar pelo fato de que é desconhecida a real capacidade do regime de empregar artefatos nucleares –há indicações de que Pyongyang está próxima de ter um míssil capaz de levar a bomba até o alvo.
Sem essa capacidade dissuasória, contudo, tudo o que Kim pode fazer é blefar, apesar de seu Exército de 1,2 milhão de soldados.
Se Trump atacar de forma cirúrgica, irá convidar algum tipo de retaliação, convencional ou atômica, caso a ditadura tenha essa capacidade. A escalada seria imprevisível.
O americano só evitaria isso incapacitando os centros de comando e controle norte-coreanos, além de bases de lançamento de mísseis, o que implicaria ação custosa.
Uma coisa é disparar pontualmente mísseis sem autorização legal ou demolir cavernas remotas com superbombas em Estados falidos.
Até aqui, o pior que aconteceu foi a degradação da já ruim relação com a Rússia, protetora da ditadura síria. Não é pouco, claro, mas é menos do que iniciar uma guerra de verdade.
Editoria de arte/Folhapress | ||