Folha de S. Paulo


Ex-advogado de Saddam Hussein critica abuso no Qatar

Najeeb al-Nuaimi, 59, foi advogado dos presos de Guantánamo, do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein e, se lhe pedissem, defenderia o sírio Bashar al-Assad.

Mas foi provavelmente a poesia —um verso— que lhe causou mais dano.

Em janeiro, Nuaimi foi proibido de deixar o Qatar, onde nasceu, por um período indeterminado. A medida é indício do recrudescimento desse país árabe, que sediará a Copa de 2022, a despeito das denúncias de corrupção e de violações aos direitos humanos. A decisão, afirma, se soma às perseguições desde que representou o poeta Mohammed al-Ajami em 2011.

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Najib al Nuaimi. Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O advvogado Najeeb al Nuaimi, que representou Saddam Hussein

Ajami foi detido em novembro de 2011, no que foi à época considerada uma prisão política. O poeta só foi libertado em março de 2016, perdoado pelo governo.

Um verso de "Jasmim" comparava as revoltas na Tunísia, mais tarde transformadas em revolução, com a situação dentro do Qatar: "Todos nós somos a Tunísia diante da elite repressiva".

O advogado recebeu a reportagem da Folha em seu escritório na capital, Doha. O edifício, discreto, contrasta com a proeminência de Nuaimi. Ele foi ministro da Justiça do Qatar entre 1995 e 1997.

Nuaimi afirma, por exemplo, que o país está se recrudescendo e que já não há Estado de direito. "Eles não aplicam a lei aqui. É decoração para os estrangeiros."

"Estou sendo punido por ser crítico ao governo", diz. "Eles não querem ser criticados, ainda que as críticas beneficiem o próprio Estado."

O advogado passou por outros momentos de tensão, no passado. Quando era um dos líderes da defesa do ex-ditador Hussein, diversos de seus colegas, como Khamis al-Obeidi, foram mortos.

Mas Nuaimi diz não acreditar que corra esse tipo de risco em seu próprio país. "Eles têm medo. Sou um dos fundadores do sistema judicial. Tenho uma grande tribo. Seria estúpido me machucar."

Nuaimi já disse, em outras ocasiões, que não se recusaria a defender o sírio Bashar al-Assad, acusado de massacrar a própria população. "Não tem a ver com inocência. Toda pessoa tem o direito à defesa", afirma.

Julgamentos dessa magnitude, diz, são ademais boa imagem, como a defesa do ditador Saddam em 2005.

"Nos encontramos frequentemente por um ano", diz sobre o iraquiano. "Ele era bastante carismático."

Nuaimi baseou sua defesa na ideia de que o ditador "acreditava que estava fazendo a coisa certa, que aquela era a única maneira de controlar o Iraque". Saddam foi enforcado em dezembro de 2006.

O advogado afirmou, mais tarde, que o julgamento não havia sido justo. "A corte tinha sido criada durante a ocupação americana, quando o Estado não era livre."


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