Folha de S. Paulo


Rússia defende regime sírio das acusações de ataque químico

Ammar Abdullah/Reuters
Homem é tratado com oxigênio após ataque com gás na cidade de Khan Sheikhoun, na Síria
Homem é tratado com oxigênio após ataque com gás na cidade de Khan Sheikhoun, na Síria

O governo da Rússia saiu nesta quarta-feira (5) em defesa do governo da Síria, acusado de perpetrar um ataque químico numa cidade do noroeste do país que deixou ao menos 72 mortos, segundo a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos.

A entidade União de Organizações de Assistência Médica, coalizão de ajuda internacional que atua no país, disse que as vítimas chegam a 100. A tragédia provocou indignação entre a comunidade internacional.

A Rússia afirmou que a aviação síria bombardeou um "armazém terrorista" com "substâncias tóxicas". De acordo com a tese de Moscou, ao explodir o depósito, as substâncias teriam se disseminado pela região.

O Kremlin também informou que vai continuar com suas operações de apoio às tropas do ditador sírio Bashar al-Assad.

"A Rússia e suas forças armadas vão continuar com a operação para apoiar as ações antiterroristas para libertar o país, realizadas pelas forças armadas sírias", declarou aos jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

A oposição síria afirma que recentes declarações dos Estados Unidos teriam "encorajado" Assad a realizar o ataque.

"A primeira reação dos sírios é que isso é uma consequência direta das declarações americanas sobre Assad não ser uma prioridade, dando a ele tempo para permanecer no poder", disse Basma Kodmani, opositor do regime, à Reuters.

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou durante uma visita à Turquia nesta semana que "o status do presidente Assad será decidido pelo povo sírio". Na semana passada, a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, afirmou que "nossa prioridade não é mais sentar e focar em remover Assad".

CONSELHO DE SEGURANÇA

As declarações ocorrem no mesmo dia em o Conselho de Segurança da ONU se reunirá em caráter de urgência para examinar as circunstâncias do episódio, que pode ter sido o segundo "ataque químico" mais letal desde o início do conflito.

"Todas as provas que vi sugerem que foi o regime de Assad... usando armas ilegais contra seu próprio povo", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, ao chegar em Bruxelas para uma conferência de dois dias sobre a Síria.

Washington, Londres e Paris apresentaram na terça-feira um projeto de resolução ao Conselho de Segurança que condena o ataque químico na Síria e exige uma investigação completa e rápida da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).

O texto também exige que o regime, que nega "categoricamente" as acusações, apresente os planos de voo e todas as informações sobre as operações militares no momento do ataque.

O projeto ameaça impor sanções com o uso do capítulo 7 da Carta das Nações Unidas.

Também nesta quarta a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que algumas vítimas do suposto ataque químico na Síria apresentam sintomas que recordam a exposição a uma categoria de produtos químicos, como "agentes neurotóxicos".

Foram encontrados "sinais compatíveis com uma exposição a produtos organofosforados (grupo de químicos usados como pesticidas artificiais), uma categoria que inclui agentes neurotóxicos", afirmou a OMS.


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