Folha de S. Paulo


Repressão a protesto contra Nicolás Maduro deixa 13 feridos na Venezuela

As forças de segurança oficiais e extraoficiais da Venezuela impediram nesta terça-feira (4) que a oposição a Nicolás Maduro avançasse com um protesto em Caracas que deveria ter terminado na Assembleia Nacional.

A violência deixou 13 feridos –dez manifestantes, um deles baleado, e três jornalistas. Enquanto os adversários do governo eram reprimidos, chavistas fizeram um ato pró-Maduro sem impedimentos.

O cerco ao protesto opositor começou na madrugada. A polícia, a Guarda Nacional e as Forças Armadas fecharam os acessos à praça Venezuela, onde os rivais de Maduro se concentrariam às 10h (11h em Brasília).

Apesar disso, a agenda foi mantida. Cerca de 5.000 pessoas, incluindo militantes da coalizão Mesa de Unidade Democrática e do movimento estudantil, chegaram ao cerco da avenida Libertador às 10h30.

Acompanharam o grupo líderes como o ex-presidenciável Henrique Capriles, o presidente do Legislativo, Julio Borges, seu vice, Freddy Guevara, e Lilian Tintori, mulher do opositor preso Leopoldo López.

Eles e outros políticos tentaram pedir o fim do cerco, sem sucesso. Em seguida, parte dos dirigentes convocaram seus seguidores a descerem a uma passagem subterrânea.

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Os manifestantes tiveram que voltar 20 minutos depois quando chegaram cerca de 40 milicianos chavistas. A essa altura a polícia já havia cercado os dois lados da avenida Libertador.

Confinados, os opositores foram atacados com gás lacrimogêneo e balas de borracha vindos dos dois lados e fugiram por um espaço aberto pelos policiais. Um restaurante na área confinada deu refúgio a 150 pessoas.

Nas ruas vizinhas, estudantes encapuzados montaram barricadas com lixo e tampas de bueiro e as incendiaram. A polícia atirou jatos d'água, enquanto manifestantes respondiam com pedras e coquetéis molotov.

O grupo da oposição fez uma segunda tentativa de chegar à sede do Legislativo, pela autoestrada Francisco Fajardo, que chegaram a fechar.

Carlos Garcia/Reuters
Demonstrators scuffle with security forces during an opposition rally in Caracas, Venezuela, April 4, 2017. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins ORG XMIT: TBR09
Tumulto em protesto em Caracas

Em motos, centenas de milicianos avançaram pela via disparando munição letal e pedras. A maioria dos manifestantes fugiu, e o resto foi retirado pela polícia.

Diante da repressão, a Assembleia Nacional transferiu para quarta (5) a votação para afastar juízes do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) pelas decisões que tiraram poderes do Legislativo.

Enquanto os opositores eram reprimidos, cerca de 20 mil governistas ouviam discursos dos líderes chavistas em em La Hoyada, a 650 metros da sede parlamentar.

Em Apure, a 400 km de Caracas, Maduro disse que seus rivais fracassaram. "Veio do norte a ordem à direita fascista para encher as ruas da Venezuela de sangue, mas triunfou a paz".

MANIFESTANTES

Antes da repressão, opositores falaram à Folha os motivos que os levaram às ruas. O líder estudantil Giovanni Giannonne, 21, disse que a intenção dele e dos colegas é pedir um país diferente.

Ele tinha três anos quando Hugo Chávez assumiu a Presidência. "Estamos lutando porque não vimos outra maneira de combater as más políticas do governo. Estamos estudando para formar o país que queremos."

A advogada Rosabel Hernández, 56, diz ter perdido sete quilos devido à escassez. "O que mais me dói são as pessoas que morrem por falta de remédios ou têm que procurar comida no lixo em um país tão rico."


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