Folha de S. Paulo


Ativistas da Guiana Francesa rejeitam acordo com Paris e mantêm protestos

Jody Amiet/AFP
Guiana workers union secretary general Davy Rimane (on balcony) addresses the crowd on April 2, 2017 in Cayenne, French Guiana. France on April 1 announced a billion euros (USD 1,07 billion) aid for strike-hit French Guiana, as representatives of the Guianese told visiting ministers the South American territory should be given
Protesto neste domingo (2) em Caiena

Após duas semanas de um movimento que bloqueou a ligação por terra com o Brasil, fechou escolas, cancelou voos e impediu o lançamento de um satélite internacional, acabou sem acordo a reunião entre militantes da Guiana Francesa e representantes do governo François Hollande.

Os protestos no território francês, que culminaram com uma greve geral no último dia 27, começaram com demandas por mais segurança e, depois, tiveram o leque de reivindicações ampliado. Manifestantes agora pedem mais investimentos do governo francês em áreas saúde, infraestrutura e segurança.

Entre os participantes, estão sindicatos, grupos indígenas e, na liderança, o grupo "500 frères contre la déliquence" (500 irmãos contra a delinquência, na tradução para o português).

O movimento, classificado como "histórico" pelo jornal "Le Monde", paralisa o território e ocorre a menos de três semanas das eleições francesas. Em resposta aos protestos, Hollande enviou na última semana dois ministros a Caiena.

O governo francês ofereceu um plano de 1 bilhão de euros, mas os líderes dos manifestantes demandam 2,5 bilhões de euros. O valor pedido foi considerado "irrealista" pelo primeiro-ministro Bernard Cazeneuve nesta segunda-feira (3). Ele afirma que as negociações continuam e que 11 acordos foram feitos em áreas como segurança, transporte e energia. Entre as medidas acertadas, estão financiamento a serviços médicos e reforço policial.

"Eu apelo mais uma vez à razão e à retirada das barreiras. Não é bloqueando a Guiana, sua economia, suas escolas e serviços públicos que iremos preparar o futuro", disse Cazeneuve.

Agricultores aceitaram as concessões e retiraram barreiras em uma rodovia. Já o líder sindicalista Davy Rimane, porém, afirmou que as declarações do primeiro-ministro não ajudavam a resolver a situação. "Não podemos continuar assim. Estamos caminhando para uma catástrofe social."

Jody Amiet/AFP
People demonstrate in support of the general strike in Cayenne, on the French overseas territory of French Guiana, on March 28, 2017. Several thousand people took to the streets on March 28 in support of the general strike. A group called The 500 Brothers took part as well as the Amerindians of Guiana. French Guiana was paralysed by a general strike on March 27, closing schools, disrupting airline traffic and further stoking fears of instability in the French overseas territory which has been gripped by protests since last week. / AFP PHOTO / jody amiet
Marcha em Caiena no último dia 28

CONSEQUÊNCIAS

O movimento na Guiana Francesa ocorre em um contexto de alta do desemprego, inflação e violência.

No dia 17 de março, no início dos protestos, uma visita da ministra da Ecologia francesa, Ségolène Royal, foi interrompida após manifestantes mascarados invadirem uma conferência da qual ela participava. Ela foi embora sem participar da inauguração de uma ponte sobre o rio Oiapoque que liga a Guiana Francesa ao Amapá.

No dia 27, uma greve geral paralisou o território de 252 mil habitantes. No dia seguinte, uma marcha em apoio à paralisação na capital Caiena reuniu cerca de 10 mil pessoas. Voos regionais da Air France foram cancelados por causa do movimento.

As manifestações também motivaram a suspensão do lançamento do foguete Ariane 5, que carregava um satélite brasileiro e outro sul-coreano.

Em razão do potencial de violência dos protestos, o Departamento de Estado dos EUA emitiu um comunicado recomendando que os cidadãos do país evitem viajar ao território.


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