Folha de S. Paulo


Eleitores oposicionistas contestam vitória de Moreno no Equador

Mesmo sem a confirmação final do Conselho Nacional Eleitoral, o vencedor das eleições no Equador, o governista Lenín Moreno, esteve nesta segunda (3) no palácio de Carondelet, sede do governo, onde assistiu junto ao atual presidente, Rafael Correa, a uma troca da guarda militar.

Depois, sorridente, Moreno puxou um "parabéns a você" para Correa, que faz aniversário na quinta (6). A multidão que os aplaudia da praça, no lado de fora, cantou junto.

Mariana Bazo/Reuters
O presidente do Equador, Rafael Correa (à esq.), e o seu aliado e vencedor da eleição, Lenín Moreno
O presidente do Equador, Rafael Correa (à esq.), e o seu aliado e vencedor da eleição, Lenín Moreno

"É uma década ganha, não há como negar. Agora com Lenín ganharemos mais outra", disse à Folha a dona de casa Ludmila Vázquez.

Segundo os dados mais recentes da contagem, com 99,6% dos votos apurados, Moreno está à frente com 51,2%, contra 48,8% do oposicionista Guillermo Lasso.

Enquanto a festa governista seguia no centro da cidade, Lasso voltou a dizer que não reconhecia a derrota, porque, segundo ele, houve fraude. "Vamos apresentar objeções específicas em todas as províncias", disse. À noite, repetiu o discurso diante do conselho eleitoral.

Em entrevista a jornalistas, Cesar Monge, um dos líderes de seu partido, o Creo, acrescentou que os militantes vinham recolhendo evidências de alterações em atas de mesas em várias cidades.

"Estamos na luta e vamos defender a vontade popular", disse Lasso. Ele pediu à OEA que se manifestasse sobre as supostas irregularidades.

Em nota, porém, a missão da entidade que acompanhou o pleito apenas cumprimentou o país pela eleição e afirmou que as queixas deveriam ser feitas pelos "meios institucionais".

VIGÍLIA

As queixas de fraude levaram manifestantes ao prédio do CNE para uma vigília na noite de domingo (2). Pela manhã, mais gente chegou.

Entre eles, predominavam eleitores de Lasso. "Estou seguro de que houve manipulação, veja como o Estado se arma contra seus cidadãos, por que não alteraria os votos?", afirma o comerciante Aureliano Ruz, 43, apontando para as cercas de metal que foram levantadas diante do CNE durante a noite, para afastar os manifestantes.

Ao final do domingo, elas não estavam no local, e quem fazia uma espécie de muro humano para proteger o prédio eram policiais com escudos e máscaras.

Mas não eram só seguidores de Lasso que estavam na vigília. Também havia gente que apenas carregava bandeiras do Equador ou usava camisas da seleção nacional.

"Não estou aqui por um candidato. Quero dizer ao meu filho que o país em que ele está crescendo é uma democracia", disse a arquiteta Stefani Castillo, 26, que tinha as cores da bandeira do Equador pintadas no rosto.

Os que estavam alheios à política tiveram dificuldade de se locomover pela cidade. As principais avenidas tinham bloqueios nas vias de acesso à avenida 6 de Diciembre, e o policiamento nas ruas do centro era ostensivo.

ASSANGE

Desde o primeiro turno, Moreno conta com o apoio do criador do WikiLeaks, Julian Assange. O australiano está asilado desde 2012 na embaixada equatoriana em Londres.

Lasso havia dito que, se ganhasse, o ativista, que é processado por abuso sexual, teria de deixar a embaixada.


Endereço da página: