Folha de S. Paulo


Opositores voltam às ruas para pedir eleições na Venezuela

Juan Barreto/AFP
Opositores ao governo do presidente venezuelano Nicolas Maduro fazem protesto em Caracas
Opositores ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fazem protesto em Caracas

A oposição venezuelana iniciou neste sábado (1°) uma série de protestos para para pedir eleições, que considera a "única saída" para a crise política.

"Eleições gerais, nada de diálogo. Eles violaram a Constituição tentando anular o Parlamento e agora voltam atrás, mas continuamos em ditadura", disse à AFP a aposentada Eugenia Salazar, 67, que compareceu a uma sessão legislativa realizada pela maioria opositora da Assembleia em uma praça de Caracas.

Os opositores exigem também que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) respeite a autonomia do Parlamento, onde são maioria.

No debate que reuniu cerca de mil pessoas, os deputados propuseram remover os magistrados da Sala Constitucional do TSJ.

Nesta semana, os magistrados emitiram uma sentença com a qual assumiram as funções do Legislativo, embora tenham se retratado depois, após uma reunião entre os poderes públicos.

"Esses magistrados cometeram um delito e têm responsabilidade penal, na terça-feira [4] devemos iniciar o processo para destitui-los", disse Stalin González, líder da bancada opositora, que foi aplaudido.

Embora desconheça as decisões do Supremo, Néstor Ramos, 67, compareceu à sessão para pedir eleições, pois está "cansado de não conseguir" seus remédios.

"Sou diabético e não consigo insulina. (...) Isto nunca tinha acontecido aqui. Não me importa o STJ, quero eleições e que vão todos embora", disse Ramos à AFP.

Após a sessão, os deputados e parte dos manifestantes tentaram caminhar até a Defensoria do Povo para pedir ao seu titular, Tareck William Saab, que rejeite as sentenças judiciais, como fez na sexta-feira (31) a procuradora-geral, Luisa Ortega, ligada ao chavismo, que as considerou uma "ruptura da ordem constitucional".

No entanto, militares e policiais impediram a passagem dos manifestantes e os dispersaram com gás lacrimogêneo, que também atingiu vários deputados.

A reação de Ortega motivou uma reunião do Conselho de Defesa na sexta-feira (31) , convocada pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na qual os poderes do Estado –exceto o Legislativo– exortaram o STJ a revisar as sentenças.

Durante a manifestação, o presidente do Parlamento, Julio Borges, disse que o "golpe de Estado" –como qualificou os ditames– continua, apesar do tribunal ter se retratado, e pediu que os protestos sejam mantidos.

Os deputados decidiram marchar na terça-feira (4) até o Parlamento para iniciar a discussão sobre os magistrados.

Sua remoção requereria a autorização do Poder Cidadão, formado pela procuradora, o defensor e o auditor fiscal do Estado, acusados pela oposição de servir ao chavismo.

Também houve pequenos protestos em vários estados do país.


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