Folha de S. Paulo


Jovem é morto com tiro após protesto no Congresso do Paraguai

Marcos Brindicci/Reuters
Fidelino Quintana (L) and his wife Felicita, parents of Rodrigo Quintana, who was killed last night by a rubber bullet fired by the police in the headquarters of the Liberal Party, stand next to the casket with the remains of after clashes in Asuncion, Paraguay, April 1, 2017. REUTERS/Marcos Brindicci ORG XMIT: MBH12
Fidelino Quintana (esq.) e sua mulher Felicita, pais de Rodrigo Quintana, com caixão neste sábado (1º)

A morte de um opositor pelas mãos da polícia aumentou neste sábado (1º) a tensão no Paraguai após realização de protestos e violentos confrontos. Pelo menos 30 pessoas ficaram feridos e mais de 200 foram detidas na manifestação contra uma emenda constitucional que busca permitir a reeleição presidencial.

Os enfrentamentos iniciados na tarde de sexta (31) causaram danos ao Congresso por manifestantes opositores, que derrubaram grades, portões, quebraram janelas e atearam fogo em várias partes do edifício.

Entre os feridos pelo impacto das balas de borracha está o próprio presidente do Congresso, o opositor Roberto Acevedo, além do titular do Partido Liberal, Efraín Alegre, e do deputado liberal Edgar Acosta, atingido na boca por um projétil.

paraguai

O presidente da Juventude Liberal, Rodrigo Quintana, 25 anos, morreu com um tiro na cabeça depois da violenta entrada da polícia na sede deste grupo político durante a madrugada.

Um vídeo postado na internet mostra o momento em que Quintana tenta correr, mas cai em seguida, aparentemente baleado. Um policial passa por ele, e chega a pisá-lo.

Um comunicado do Ministério do Interior disse que as autoridades "investigam as circunstâncias da morte, supostamente pelas mãos de um efetivo da Polícia Nacional".

"Vamos esclarecer totalmente o ocorrido, e os responsáveis serão colocados à disposição da Justiça", destacou.

Enquanto isso, 211 pessoas foram detidas, entre elas menores de idade, que ficaram alojados na sede do Agrupamento Especializado da Polícia Nacional, segundo uma fonte policial.

O sábado amanheceu calmo, com centenas de policiais ao redor do edifício legislativo, enquanto militares reforçaram a guarda no Palácio do Governo, a duas quadras de distância.

O oficialismo busca abrir as portas para a reeleição, mas a oposição rejeita esta ideia e quer que seja mantido um único mandato presidencial, como determina a Constituição de 1992.

A um ano da eleição presidencial, a reforma permitiria que o atual presidente conservador, Horacio Cartes, no poder desde 2013, se candidatasse a um novo mandato, assim como o ex-presidente de esquerda Fernando Lugo, ex-bispo católico destituído após um julgamento político.

Uma maioria de 25 senadores, de um total de 45, aprovou nesta sexta-feira o projeto de emenda constitucional, e, neste sábado, o mesmo deveria ser ratificado pela Câmara dos Deputados, mas a sessão foi suspensa após as confusões.

A votação foi realizada em um gabinete do Senado, pois o salão plenário estava ocupado por senadores do opositor Partido Liberal, que se opõem à reforma.

Sob gritos de "Ditadura nunca mais", centenas de opositores entraram no edifício legislativo após a destruição de portões, grades e janelas, e provocaram um incêndio.

No interior do Congresso, saquearam os gabinetes dos senadores que apoiaram a emenda.

REFERENDO

Depois da longa ditadura do general Alfredo Stroessner, a Constituição de 1992 proibiu a reeleição presidencial, a fim de proteger o Paraguai de um presidente que tentasse se agarrar ao poder.

A Câmara dos Deputados, onde o governo possui ampla maioria, também deve aprovar o projeto de reforma. O passo seguinte é um chamado a um referendo pelo tribunal eleitoral em um prazo de três meses.

"Não faremos sessão no sábado. Me impressiona o que está acontecendo. Me afeta muito. Espero que a calma e a concórdia voltem", disse o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Velázquez, em uma mensagem transmitida pela televisão.

O presidente do Senado, Roberto Acevedo, afirmou que a votação de sexta-feira "é inconstitucional" e pediu à Suprema Corte de Justiça que a invalide.

"Queremos que os cidadãos decidam se querem ou não a reeleição por meio de um referendo", disse a senadora Lilian Samaniego, presidente do oficialista Partido Colorado, horas antes dos confrontos.

Os opositores consideram a aprovação da emenda constitucional um "golpe parlamentar", e fizeram um pedido ao povo "para resistir com todas as formas ao nosso alcance".

À noite, Cartes qualificou de "bárbaros" os manifestantes e responsabilizou os fatos a "um grupo de paraguaios metidos na política e nos meios de comunicação para conseguir o objetivo de destruir a democracia e a estabilidade política e econômica".

Em seu Twitter, Cartes escreveu: "A democracia não se conquista nem se defende com violência", e ratificou a vigência do "Estado de Direito".


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