Folha de S. Paulo


Na OEA, líder opositor defende 'sanções' ao governo da Venezuela

Após se reunir com o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, na manhã desta sexta (31), o líder opositor venezuelano, Henrique Capriles, defendeu "que venham as sanções" dos organismos internacionais ao país após o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) se apropriar das funções da Assembleia Nacional.

Há duas semanas, Almagro ameaçou convocar uma votação para suspender Caracas da OEA se o país, em 30 dias, não convocasse eleições, libertasse opositores e alterasse a composição da Justiça.

15.fev.2017/Xinhua
O governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, dá entrevista coletiva em Caracas
Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda, em foto de arquivo

Nesta sexta, o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, defendeu à Folha que a Venezuela seja expulsa do Mercosul, da qual já está suspensa. Os chanceleres do bloco se reúnem neste sábado (1º) em Buenos Aires.

"Todos [os blocos] têm clausulas a serem respeitadas, cumpridas. Se o governo venezuelano não as cumpre, que venham as sanções, as consequências. Eu respaldo toda decisão que aponte a resgatar a democracia no meu país", disse Capriles, ao ser questionado sobre a posição do chanceler brasileiro.

O governador do Estado venezuelano de Miranda afirmou que os grupos regionais têm que se pronunciar sobre o desmantelamento da Assembleia porque Mercosul, Unasul (União Sul-americana de Nações) e OEA "foram, no passado, refúgio para o atropelo do oficialismo" venezuelano.

"Esse momento que vive a Venezuela é um momento decisivo na região, no continente: [escolher ficar entre] os que estão a favor da democracia, que estão ao lado do povo, e os que estão com a corrupção, o ditador e com os seus interesses", disse Capriles.

Nesta sexta, seis países membros da Unasul, dentre eles o Brasil, emitiram uma nota em que "condenam" o manobra do TSJ contra o Legislativo venezuelano. O documento faz um "urgente chamado para que o governo da Venezuela avance efetivamente na aplicação de medidas concretas, concertadas com a oposição" e pelo "pronto restabelecimento da ordem democrática" no país.

CARTA DEMOCRATICA

O opositor disse esperar que a OEA se pronuncie oficialmente sobre o "golpe de Estado" em curso no seu país, em uma declaração, e que a invocação da Carta Democrática do bloco "siga seu curso". Se invocada a Carta da OEA, a Venezuela pode, em última instância, ser suspensa do organismo, como ocorreu com Honduras, em 2009, após o golpe contra o presidente Manuel Zelaya.

"Pedimos que a OEA se pronuncie sobre este tema. Tudo o que corresponde à Carta democrática segue seu curso. Mas não são coisas excludentes", disse Capriles.

Almagro convocou uma reunião extraordinária do Conselho Permanente da OEA, que deve ser realizada na próxima segunda-feira (3) para debater a decisão do TSJ de retirar os poderes do Legislativo venezuelano, de maioria opositora.

"Em paralelo, continua nosso pedido para que haja eleições, [a abertura de um] canal humanitário, libertação de presos políticos e respeito à Assembleia Nacional", afirmou Capriles, destacando, contudo, que isso não deve ser conseguido por meio do diálogo mediado pelo ex-premiê espanhol José Luis Zapatero.

"Acho que o Vaticano [que também é um mediador] é um ator de muito boa fé e não queremos perdê-lo. Agora, com uma instância de mediação como a que Zapatero lidera, não vamos a lugar nenhum", disse.

Para Capriles, a solução por meio do diálogo com Maduro está "perto do impossível".

Até o início da semana, a defesa de Almagro pela suspensão da Venezuela da OEA não encontrava apoio entre a maioria dos Estados membros, como o Brasil. No último dia 23, um grupo de 14 países disse, em comunicado, que a suspensão era "medida de último recurso, considerada após se esgotarem os esforços diplomáticos dentro de um prazo razoável".

Em sessão na última terça (28) –antes da decisão do Judiciário venezuelano–, outros seis países se juntaram aos 14 em uma declaração que pedia à OEA "propostas concretas" para definir um plano de ação que identifique soluções diplomáticas no "menor prazo possível".

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Venezuela

CRONOLOGIA

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30.mar.2017
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