Folha de S. Paulo


ONGs prometem enfrentar decreto de Trump que cancela plano ambiental

Organizações ambientais estão preparadas para combater o decreto do presidente dos EUA, Donald Trump, que elimina restrições à produção de combustíveis fósseis e cancela os planos para limitar o aquecimento global.

Nos últimos meses, os ambientalistas contrataram dezenas de novos advogados para ir à Justiça, mas antes, afirmam, levarão sua luta ao tribunal da opinião pública.

Os ativistas afirmam que planejam trabalhar juntos para mobilizar uma reação pública ao projeto assinado na terça-feira (28), que revisa o plano do antecessor de Trump, Barack Obama, de restringir as emissões de usinas a carvão e congela licenças para a extração do combustível.

Trump, que disse que o aquecimento global é uma "farsa" inventada pelos chineses, declarou durante a campanha presidencial que cancelaria os planos de Obama quando ao clima e promoveria a recriação de empregos no setor de carvão.

Mesmo assim, "não é isso que as pessoas elegeram Trump para fazer; o povo apoia as ações quanto ao clima", disse David Goldston, diretor de assuntos governamentais no Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, para quem as ações de Trump são insensatas e não recriarão os empregos que ele promete.

A Casa Branca não comentou sobre a ação dos ambientalistas. Embora os republicanos culpem as leis ambientais pelo desemprego no setor carvoeiro, estatísticas do governo mostram que as minas vinham cortando seus postos de trabalho há décadas.

Os principais motivos eram a automação das minas, a concorrência do gás natural e a diminuição dos custos de produção de energia elétrica por painéis solares e turbinas eólicas.

Mas muita gente nas áreas dos Estados Unidos ricas em carvão está contando com os empregos que Trump prometeu, e representantes do setor carvoeiro elogiaram seus decretos.

"Esses decretos são um abandono bem-vindo da estratégia do governo anterior para tornar a energia mais cara por meio de regulamentação dispendiosa e destruidora de empregos, que sufocava a nossa economia", disse Thomas Donohue, presidente da Câmara de Comércio dos Estados Unidos.

O decreto também atenuará outras regulamentações, o que inclui abandonar referências ao "custo social" dos gases causadores do efeito-estufa na legislação vigente.

A medida determina uma revisão dos esforços para reduzir a emissão de metano na produção de petróleo e gás natural, e da regra do Serviço de Administração de Terras Federais sobre petróleo e gás de xisto, para determinar se eles refletem as prioridades políticas do novo presidente.

O decreto também rescinde medidas da era Obama, entre as quais uma instrução sobre a relação entre mudança no clima e segurança nacional e outra que buscava preparar o país para o impacto da mudança no clima. O governo Trump declarou que ainda está discutindo se pretende abandonar o Acordo de Paris.

DESVANTAGEM

Os ambientalistas dizem que energia limpa criaria milhares de novos empregos e temem que as ações de Trump coloquem os Estados Unidos em desvantagem competitiva diante de nações que a estão promovendo.

E eles acreditam que os esforços para reanimar a extração de combustíveis fósseis terminarão fracassando porque muitos setores e Estados já vêm adotando a energia renovável e o gás natural.

"Essas decisões estão sendo tomadas em nível estadual e usina por usina", disse Trip Van Noppen, presidente da Earthjustice, que disse que sua organização continua "a trabalhar agressivamente pelo fechamento de usinas de carvão sujas".

"O carvão não vai voltar", acrescentou Van Noppen. "Embora o presidente esteja tomando medidas vistosas, ele está condenado a fracassar".

Uma coalizão de 16 Estados norte-americanos e do Distrito de Colúmbia (onde fica a capital Washington) anunciou que se oporá a qualquer esforços do governo Trump para retirar o Plano de Energia Limpa ou solicitar o encerramento de um processo pendente junto a uma corte de apelações.

Ativistas ambientais também estão prontos para recorrer à Justiça rapidamente, e observarão cuidadosamente as ações do governo, disse Goldston.

"O presidente não tem o direito de simplesmente reescrever as salvaguardas; eles precisam provar que as mudanças respeitam a lei e a ciência. Creio que esse será um grande obstáculo para eles".

Jeremy Symons, vice-presidente associado do Fundo de Defesa do Meio Ambiente, disse que os ambientalistas trabalharão para obter apoio dos legisladores e do público.

"Quanto ao quadro geral, nossa estratégia é simples: expor aquilo que está acontecendo e mobilizar a opinião pública quanto a esses recuos que ameaçam a saúde de nossas crianças" e o clima, ele disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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