Folha de S. Paulo


Donald Trump sobe tom de acusações contra Barack Obama

Depois de Hillary Clinton e dos parlamentares democratas, da inteligência e da imprensa, o novo alvo de Donald Trump é Barack Obama.

Nos últimos sete dias, o presidente acusou o democrata de tê-lo grampeado durante a campanha eleitoral e de estar por trás dos protestos contra seu governo, chamou-o de "doente" e "fraco" e o repreendeu por ter libertado de Guantánamo prisioneiros que teriam, agora, ligação com terrorismo.

Carlos Barria - 20.jan.2017/Reuters
Barack Obama e Donald Trump se cumprimentam na cerimônia de posse do republicano em janeiro
Barack Obama e Donald Trump se cumprimentam na cerimônia de posse do republicano em janeiro

Críticas ao antecessor não são uma novidade da Casa Branca sob Trump, mas o tom dos ataques, sim. Principalmente porque, num deles, o republicano fez, sem ter provas, uma acusação de que Obama o tinha grampeado, e em outro, mentiu sobre os números de Guantánamo.

Nesta terça-feira (7), o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump não se arrepende de ter tuitado, no sábado (4), que Obama tinha colocado escutas telefônicas na Trump Tower, em Nova York, e que nem considera voltar atrás.

"Por que ele retiraria [a acusação] enquanto ela não foi investigada?", disse Spicer, para quem essa "não é uma questão de provas".

A Casa Branca pediu ao Congresso que examinasse se Obama abusou de sua "autoridade investigativa".

O diretor do FBI, James Comey, no entanto, já teria, segundo o "New York Times", pedido ao Departamento de Justiça que negasse as acusações de espionagem —replicadas por Trump possivelmente com base em um artigo com essa teoria no site conservador Breitbart News, do qual o estrategista-chefe de Trump, Stephen Bannon, é um dos fundadores.

Nesta terça, também pelas redes sociais, Trump disse que, em "outra terrível decisão", Obama teria liberado 122 "prisioneiros cruéis" de Guantánamo que voltaram a ter atividade militante.

Segundo o último relatório do diretor de inteligência, de 2016, 122 dos 693 detentos libertados, de fato, teriam voltado a campo —mas só 9 deles (ou 7% dos 122) deixaram a base no governo Obama; 93% o fizeram na gestão de George W. Bush (2001-2009).

"Sempre há críticas e ataques [a antecessores], mas acusar o presidente anterior de uma ação criminosa não é uma coisa normal", diz o historiador Julian Zelizer, da Universidade de Princeton.

Para Denis McDonough, ex-chefe de gabinete de Obama, a equipe do ex-presidente não pode permanecer calada diante de falsas alegações.

"O que testemunhei nos últimos dias foram ex-colegas se pronunciando contra inverdades quando foi necessário. Isso é não recuar dos ataques, não é buscar o conflito", disse McDonough ao "New York Times".

Após as acusações, a assessoria de Obama soltou um breve pronunciamento por escrito, dizendo que qualquer sugestão de espionagem sobre Trump é falsa.

Para Zelizer, o democrata acerta ao não entrar numa troca de acusações. "Trump está constantemente procurando um vilão. Ele tem feito isso desde a campanha, e Obama é a nova Hillary, a pessoa por trás dos problemas que ele enfrenta", diz.

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AFAGOS E ATRITOS
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