Folha de S. Paulo


Fillon pede desculpas por escândalos, mas mantém candidatura na França

O candidato da direita nas eleições presidenciais francesas, François Fillon, pediu perdão a seus seguidores, neste domingo (5), pelo escândalo de empregos fantasmas que ameaça sua campanha. Ele voltou a defender sua inocência e disse que vai manter sua campanha.

Em discurso diante de milhares de pessoas, perto da Torre Eiffel, Fillon admitiu –mais uma vez– ter cometido "um erro" ao contratar sua mulher, Penelope, como assistente parlamentar.

Geoffroy Van Der Hasselt/AFP
 French presidential election candidate for the right-wing Les Republicains (LR) party Francois Fillon (C) waves on stage as supporters holding French flags greet him during a rally at the place du Trocadero, in Paris, on March 5, 2017. Embattled French conservative Francois Fillon told supporters at a Paris rally on March 5, 2017 to
O candidato da direita nas eleições presidenciais francesas, François Fillon, discursa em Paris

Fillon disse, porém, estar convencido de que será inocentado.

"O problema é que, aí, será tarde demais. As eleições terão sido manipuladas", declarou o candidato, de 63 anos.

"Fiz um exame de consciência (...) Agora cabe a vocês fazer o mesmo", declarou.

ATAQUES

No comício, Fillon lamentou ter sido "atacado por todo mundo" nas últimas semanas, mas reconheceu sua responsabilidade nos "enormes obstáculos" que marcaram sua campanha.

"Eu lhes devo desculpas, incluindo a de ter de defender minha honra e a da minha mulher, enquanto que, tanto para vocês quanto para mim, o importante é defender nosso país", acrescentou.

O perigo para os conservadores é perder eleições dadas quase como certas até a publicação em meados de janeiro, por parte do semanário "Le Canard Enchaîné", do caso dos empregos fantasmas envolvendo a família Fillon.

CONTRA A SANGRIA

A marcha deste domingo foi convocada pelo próprio candidato em meio à sangria de apoios, como uma tentativa de demonstração de força ante seu próprio partido. François Fillon vem sendo pressionado pelos caciques de seu partido a abandonar a corrida eleitoral.

Para muitos analistas, o ato deste domingo pode ser um de seus últimos cartuchos para salvar sua candidatura.

Em entrevista ao telejornal do canal público France 2, após o comício, Fillon declarou que "ninguém hoje pode me impedir de ser candidato".

"Minha candidatura continua a ser apoiada pela maioria dos eleitores de direita e de centro, eu acredito, e acho que demonstrei isso esta tarde", afirmou.

O fato é que as pesquisas são devastadoras e mostram que o escândalo manchou sua imagem de "homem honrado". As sondagens mais recentes apontam que ele não conseguirá passar pelo primeiro turno, em 23 de abril, estando, portanto, ausente no segundo, em 7 de maio.

PRESSÃO

Protagonista do escândalo que abala a carreira de seu marido, Penelope falou pela primeira vez em público, em uma entrevista publicada no "Journal du Dimanche", na qual aconselhou Fillon a lutar até o fim.

Penelope ressaltou que seu marido "é o único candidato com experiência (...), projeto e determinação necessários para dirigir a França".

Na entrevista, ela negou o caráter "fantasma" do emprego, alegando que realizou "tarefas muito variadas" para seu marido quando este era deputado.

Na França, os deputados têm direito a contratar parentes, desde que a vaga seja real, e eles realmente trabalhem.

Nesta semana, cerca de 250 dirigentes e políticos de seu partido retiraram o apoio a Fillon.

O candidato chegou a declarar que desistira da corrida eleitoral se fosse indiciado pela Justiça. Depois recuou, afirmando que se submeteria apenas ao "sufrágio universal", o que desencadeou a série de abandonos de apoio.

Em diferentes ocasiões, François Fillon deu a entender que as acusações contra ele teriam motivação política, sugerindo, inclusive, que o governo socialista de François Hollande poderia estar por trás da investigação.

O cerco a Fillon se fechou ainda mais esta semana, depois da batida policial em sua residência na capital francesa na quinta-feira (2) e em sua mansão no departamento da Sarthe, na sexta (3).

Nesse contexto, são cada vez maiores as pressões para que Fillon renuncie e seja substituído por Alain Juppé, ex-primeiro-ministro que ficou em segundo lugar nas primárias da direita e é considerado politicamente mais moderado do que o atual candidato.

Prefeito de Bordeaux, Juppé colocou como condição para aceitar substituir Fillon que o candidato renuncie voluntariamente e que ele tenha pleno apoio de seu partido, o conservador Les Républicains, nesse processo.

CAMPANHA

No sábado (4), Fillon pediu a seus partidários que não se deixem "intimidar", depois da sangria de apoio na última semana e dos apelos crescentes por sua retirada da disputa.

"Esta campanha é um combate estranho", reconheceu Fillon, em um comício perto de Paris.

"Querem intimidar vocês. Não desistam, não renunciem nunca", pediu, em uma reunião na qual também lembrou das linhas gerais de seu programa –redução de impostos e fim da semana de 35 horas de trabalho.

"Não são mais os ratos que abandonam o barco. É o barco que abandona o rato", ironiza o jornal "Libération", de esquerda, em editorial deste sábado.

Quem aparece como substituto é o ex-primeiro-ministro Alain Juppé, de 71 anos. Juppé, que perdeu no segundo turno das primárias da direita e de centro, "não fugirá" desde que se respeitem as seguintes condições: que François Fillon se retire por iniciativa própria e que seu partido político, Les Républicains, "o apoie de forma unânime", afirmou uma pessoa de seu círculo pessoal.

Apesar do ambiente hostil, o ex-primeiro-ministro (2007-2012) se mantém firme e não parece disposto a jogar a toalha. Em um vídeo divulgado ontem, convocou seus correligionários a aderirem em massa a uma manifestação de apoio à sua campanha, neste domingo, no centro de Paris.

Dividido entre partidários e críticos de Fillon, seu partido antecipou em 24 horas a realização de seu comitê político, que acontece nesta segunda-feira à tarde para "avaliar a situação".

Socialmente conservador e católico fervoroso, Fillon conta com o apoio do movimento Manif Pour Tous, que foi várias vezes às ruas contra a legalização do casamento homossexual na França, medida impulsionada pelo atual governo socialista.

Fiel à sua linha combativa –"suicida" para a direita, segundo seus adversários–, Fillon continuou sua campanha neste sábado, mas esse "capitão do Titanic", como também vem sendo chamado, enfrenta ventos cada vez mais desfavoráveis.

O tempo se esgota para encontrar uma solução alternativa para Fillon. Os candidatos têm até 17 de março para conseguir o apoio de 500 representantes locais necessários para participar das eleições.


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