Folha de S. Paulo


Fillon será denunciado por corrupção na França, mas mantém campanha

O conservador François Fillon, candidato à Presidência francesa pelo partido Republicanos, disse na quarta-feira (1º) que será acusado formalmente em 15 de março.

Ele é suspeito de ter contratado a mulher, Penelope, para o cargo de assistente parlamentar, que ela nunca exerceu. A denúncia terá impacto no pleito deste ano, provavelmente beneficiando a candidata de extrema direita, Marine Le Pen.

Eric Feferberg - 27.nov.2016/AFP
French member of Parliament and candidate for the right-wing primaries ahead of the 2017 presidential elections, Francois Fillon, walks out out the voting booth in a polling station in Paris, on November 27, 2016, during the second round of the primary. France's conservatives hold final run-off round of a primary battle on November 27 to determine who will be the right- wing nominee for next year's presidential election. / AFP PHOTO / POOL / Eric FEFERBERG
O candidato conservador à Presidência da França, François Fillon

Fillon falou à imprensa após grande ansiedade durante a manhã em relação às suas declarações. Havia a chance de que ele desistisse da candidatura, o que não fez. "Não vou ceder, não vou me render, não vou me retirar", disse.

O conservador criticou a Justiça francesa e a imprensa e afirmou que a acusação feita contra ele é uma tentativa de "assassinato político".
Bruno Le Maire, um de seus principais assessores, renunciou durante o dia.

"PENELOPEGATE"

Há suspeitas de que Penelope, mulher do candidato, recebeu ao menos R$ 2,2 milhões durante 15 anos para o cargo de assistente parlamentar sem ter de fato trabalhado. Esse caso passou a ser conhecido como "Penelopegate". Ela foi interrogada nesta quarta-feira.

Em meio às investigações, Fillon cancelou sua participação em um importante evento de sua campanha.

A ausência do conservador na feira anual de agricultura em Paris, vista como parada obrigatória aos candidatos para ganhar o voto rural, foi entendida como indicação da seriedade do caso.

Fillon nega as acusações de que Penelope não tenha exercido o cargo, mas admite que ter contratado a mulher como assistente parlamentar foi um erro de julgamento. Dois de seus filhos também teriam sido beneficiados.

A contratação de familiares não é, em si, ilegal na França, mas é necessário que eles cumpram a função.

REVIRAVOLTAS

O conservador Fillon, 62, era um favorito à Presidência francesa, mas sua popularidade foi prejudicada pela denúncia, feita em 25 de janeiro por um semanário francês.

A reviravolta tem um quê de ironia, pois Fillon era até então apresentado como um político excepcionalmente honesto. Essa fama lhe ajudou a garantir, no ano passado, a nomeação como o candidato da sigla Republicanos,, derrotando o ex-presidente Nicolas Sarkozy.

Sua continuidade ou desistência no pleito afetará as chances dos outros dois candidatos que lideram as pesquisas, a ultra-direitista Le Pen e o centrista independente Emmanuel Macron.

Le Pen por ora lidera as pesquisas ao primeiro turno, mas perderia na segunda rodada. As eleições serão realizadas em 23 de abril, com desempate em 7 de maio.

A candidata, cuja campanha é marcada pela xenofobia e pela aversão à população muçulmana, teria 25% dos votos no primeiro turno, contra os 24% de Macron e os 20,5% de Fillon, segundo uma sondagem de voto divulgada na terça-feira (28).

Geoffroy Van Der Hasselt - 28.fev.2017/AFP
French far-right Front National (FN) party candidate for the presidential election Marine Le Pen speaks with people as she visits the Agriculture Fair in Paris on February 28, 2017. / AFP PHOTO / GEOFFROY VAN DER HASSELT
Marine Le Pen, candidata da extrema direita à Presidência da França

MANOBRAS

A ultra-direitista Le Pen também enfrenta denúncias de corrupção. Mas, ao contrário de seu rival Fillon, sua popularidade não parece ter sido prejudicada até agora.

Ela rebate as acusações de que pagou seu guarda-costas como se fosse um assistente parlamentar, afirmando que as denúncias são manobras políticas do "establishment".

A ideia convence seu eleitorado, afim àquele que elegeu Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos em novembro de 2016.

O temor entre a liderança europeia é de que uma eventual eleição de Le Pen aprofunde a crise na União Europeia. O Reino Unido decidiu, em junho passado, deixar o bloco econômico. Le Pen é crítica à integração regional.


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