Folha de S. Paulo


Agricultor francês é multado por ajudar migrantes

Um fazendeiro francês acusado de ter ajudado migrantes a cruzar a fronteira vindos da Itália foi condenado nesta sexta-feira (10) a uma multa equivalente R$ 10 mil.

Cedric Herrou não negava as acusações e chegou a criticar o governo francês ao afirmar que ele estava apenas cumprindo seu dever, diante da inação do Estado.

Valery Hache - 04.jan.2017/AFP
French farmer Cedric Herrou speaks to the press as he arrives for his trial at the court of Nice, southeastern France, on January 4, 2017 for allegedly assisting migrants to enter and remain illegally in France. Herrou faces up to five years in prison and a fine of 30,000 euros.
O agricultor francês Cédric Herrou fala à imprensa ao chegar para seu julgamento, em Nice, em janeiro

Ele tornou-se uma espécie de herói regional e a multa, que poderá ser suspensa, deve ser celebrada por sua defesa. A Promotoria havia pedido oito meses de prisão.

A questão migratória é central no debate público francês durante estes meses, precedendo as eleições presidenciais, com primeiro turno agendado para 23 de abril.

Migrantes chegam vindos de países do norte da África e do Oriente Médio, fugindo de guerras ou da pobreza.

O governo francês foi criticado em 2016 por desmontar o campo de refugiados de Calais, localizado próximo a uma rota de travessia para o Reino Unido, onde organizações humanitárias afirmam que houve descaso especialmente em relação às crianças desacompanhadas.

RISCOS

Herrou tem uma fazenda de oliveiras entre a França e a Itália, onde transportou dezenas de refugiados. Ele abrigou migrantes em uma casa em Tourrettes-sur-Loup, de onde seguiram para Paris.

Seu gesto teve um simbolismo específico, pois a mesma região foi utilizada por judeus para escapar da perseguição nazista durante a Segunda Guerra (1939-1945).

O fazendeiro diz que os refugiados correm risco ao cruzar a fronteira seguindo as linhas dos trens, razão pela qual a ajuda é fundamental.

A Folha conversou com o advogado de Herrou, Zia Oloumi, em janeiro passado.

Oloumi afirmou, na ocasião, que "se o que ele fez é ilegal, então precisamos mudar as leis". "Não podemos ter uma legislação que seja contra os valores humanos."

A defesa argumentava que o fazendeiro havia agido motivado pelos valores da república francesa: a liberdade, a igualdade e a fraternidade.


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