Filhos de imigrantes, mesmo ilegais, estão seguros nas escolas públicas de Nova York (EUA). Esta foi a mensagem enviada aos pais dos alunos, por carta, pelo Departamento de Educação da cidade.
O documento, assinado pela secretária de Educação, informa que agentes da imigração não terão acesso às escolas— e que elas não irão fornecer dados dos estudantes.
Renata Cafardo/Folhapress | ||
A escola PS 145, em Nova York, é uma das que apoiam famílias de imigrantes nos Estados Unidos |
A rede de ensino municipal de Nova York é a maior do país, com 1,1 milhão de alunos e 1.800 escolas. Cerca de 40% das crianças são de origem hispânica, segundo dados da prefeitura.
"Se você ou sua família chegaram há cem anos ou há cem dias —vocês são nova-iorquinos— e nós estamos com vocês", diz a carta. O comunicado, escrito em inglês e em espanhol, como é de praxe no sistema educacional da cidade, também foi disponibilizado em idiomas como russo, mandarim e árabe.
"Foi um alívio, fez com que eu me sentisse mais segura", disse Yovanla Landa, 32, cuja família veio do Chile. Seus filhos, de 5 e 9 anos, nascidos nos EUA, estudam em escolas públicas de Manhattan.
Ela conta que a escola nunca pediu documentos de seu marido, que é imigrante ilegal. "Espero que isso não mude. Sempre nos sentimos seguros. Agora, com Trump, está um pouco mais difícil."
A garçonete Valeria Reyna, 26, mãe de Makaila, 4, também gostou dos termos da carta. "Mas, ao mesmo tempo, foi um pouco assustadora porque me fez pensar: será que eles podem vir atrás das nossas crianças?" Sua família é de imigrantes da República Dominicana.
Algumas escolas, como a P.S. 145, no Upper West Side, estão organizando também, por iniciativa própria, workshops sobre o assunto. Segundo elas, os pais têm procurado diretores e coordenadores para pedir informações e ajuda.
O documento diz que a cidade tem orgulho da sua diversidade e reforça que toda criança tem direito à escola. Outra circular, com perguntas e respostas sobre imigração, também foi distribuída.
Uma das questões se refere ao veto a imigrantes de sete países por 90 dias, implementando por decreto do governo Trump. O documento oferece um número de telefone com ajuda jurídica gratuita.
As escolas de Nova York não questionam o status imigratório dos pais ou da criança durante a matrícula e em nenhum momento do período escolar. Só é necessário apresentar documentos como passaporte, certidão de nascimento e carteira de vacinação. Moradores da cidade têm direito à escola pública a partir dos 4 anos.
O teor da carta reflete o posicionamento do prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, forte opositor do governo Trump. Desde que o mandatário foi eleito, Blasio tem dito que vai proteger os cerca de meio milhão de imigrantes ilegais da cidade que, para ele, "são parte da comunidade".
Nova York é considerada uma cidade-santuário, o que significa que a polícia local não atua prendendo imigrantes ilegais. A prefeitura garante que isso vai continuar, mesmo que signifique perder verbas federais.