Folha de S. Paulo


Ministério Público da Colômbia acusa Santos de receber doação da Odebrecht

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos foi acusado nesta terça-feira (7) pelo Ministério Público do país de ter usado US$ 1 milhão de propina da Odebrecht na campanha que o levou à reeleição, em 2014.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2016 pelas negociações de paz com as Farc é mais um acusado de envolvimento no escândalo da companhia brasileira, que afetou políticos em diversos países latino-americanos.

Jaime Saldarriaga - 24.nov.2016/Reuters
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, faz discurso após assinar acordo das Farc em novembro
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, faz discurso após assinar acordo das Farc em novembro

Segundo o procurador-geral Néstor Martínez, o dinheiro teria sido recebido pelo ex-senador Otto Bula, preso em 14 de janeiro, sob a acusação de ser o lobista da construtora para a concessão de financiamentos e obras públicas.

O US$ 1 milhão fariam parte da comissão de US$ 4,6 milhões que ele recebeu pelos trabalhos para ganhar a licitação de uma estrada. Desse valor, foi descontado 10% que teriam sido entregues a integrantes da campanha.

O chefe de campanha do atual presidente, Roberto Prieto, negou que tenha recebido dinheiro da Odebrecht. Segundo ele, a ordem foi não receber nenhuma doação de pessoa física ou jurídica para o financiamento.

"Os recursos da campanha, como mostram claramente as contas apresentadas, provêm exclusivamente e totalmente do fundo partidário previsto na lei", afirmou, acusando o Ministério Público de querer prejudicar Santos.

"Não deixa de ser suspeita essa tentativa de sujar a campanha de 2014, por um indivíduo investigado na Justiça ao incorrer supostamente em delitos para que a Odebrecht fosse beneficiada em contratos no país."

O secretário de Transparência da Presidência, Camilo Enciso, acusou o ex-presidente Álvaro Uribe, rival e ex-aliado de Santos, de querer "se defender atacando com mentiras", em referência a acusações contra o partido opositor.

Ele mencionou a acusação envolvendo o principal adversário de Santos em 2014, Óscar Iván Zuloaga. O marqueteiro brasileiro Duda Mendonça, que coordenou a campanha de Zuloaga, afirma ter sido pago pela construtora.

Normalmente ferrenho crítico de Santos, Uribe usou tom ameno ao falar sobre as acusações contra o presidente. "Acho que temos que dar um tempo, estudar o tema antes de dar uma declaração", disse.

FINANCIAMENTO

Em dezembro, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou que o grupo Odebrecht pagou US$ 599 milhões em propinas para servidores públicos e políticos brasileiros (ou R$ 1,9 bilhão ao câmbio atual) e mais US$ 439 milhões (R$ 1,4 bilhão) em outros 11 países.

Aos moldes do que ocorreu com políticos brasileiros na Operação Lava Jato, a Odebrecht é acusada de pagar propina para governantes ou fornecer dinheiro para campanhas eleitorais em ao menos 11 países latino-americanos.

Além do Brasil, a construtora é acusada de irregularidades em Argentina, Colômbia, El Salvador, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela.

As denúncias de propina pegaram pessoas associadas a políticos de diferentes espectros: desde o venezuelano Nicolás Maduro até o direitista Uribe, passando pelo peruano Ollanta Humala e o argentino Mauricio Macri.

No caso de El Salvador, a mulher do ex-presidente Mauricio Funes, a brasileira Vanda Pignato, foi acusada na delação da empreiteira de pedir ao PT que intermediasse o pagamento de R$ 5,3 milhões de recursos da Odebrecht para o caixa dois da campanha de reeleição do marido, em 2008.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que vai terminar com trabalhadores locais as obras em andamento da construtora. Macri pediu que as autoridades brasileiras divulgassem os nomes dos argentinos envolvidos.

No Peru, o presidente Pedro Pablo Kuczynski disse que a empresa terá que sair do país e nesta terça-feira a Procuradoria pediu a prisão do ex-presidente Alejandro Toledo por receber US$ 20 milhões da Odebrecht após conceder à empresa as obras da Rodovia Interoceânica.

Outros países que proibiram a atuação dela em novas licitações de obras públicas foram Equador, onde teriam sido distribuídos US$ 33,5 milhões, e Panamá, cujos políticos são acusados de embolsar US$ 59 milhões.

Enquanto isso, a Polícia de Investigações do Chile fez mandados de busca e apreensão em escritórios de outra construtora brasileira, a OAS, que teria financiado a campanha de Bachelet e de Marco Enríquez-Ominami em 2013.


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