Folha de S. Paulo


Governo Trump recorre para retomar veto a imigrantes de países islâmicos

O Departamento de Justiça dos EUA entrou neste sábado (4) com um recurso para derrubar a liminar aprovada por um juiz contra o decreto do presidente Donald Trump que veta a entrada de cidadãos de sete países muçulmanos.

A tentativa de voltar a colocar a medida em vigor foi apresentada ao 9º Tribunal de Apelações, que atende ao oeste do país. A região é a mesma de Seattle, onde o juiz federal James Robart suspendeu o decreto na sexta-feira (3).

O recurso deverá ser avaliado nas próximas horas. Devido à medida cautelar, o Departamento de Estado foi obrigado a revalidar os vistos de 60 mil cidadãos de Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Síria, Somália e Sudão.

Isso provocou uma corrida aos aeroportos da Europa e do Oriente Médio para entrar antes do fim do recurso. Os vistos voltaram a ser aceitos por companhias aéreas como Emirates, Etihad, Turkish Airlines, Iberia, Air France e Lufthansa.

Quem conseguiu embarcar comemorou: "Vamos viajar hoje, estou muito feliz. Finalmente, conseguimos", afirmou o iraquiano Fuad Sharef, que foi impedido de ir a Nova York com a família na semana passada.

O iemenita Ammar Alnajjar gastou US$ 1.000 para voltar antecipadamente de uma visita à namorada, que mora em Istambul, para Memphis, onde estuda. Ele afirma ter ficado uma hora sendo interrogado no aeroporto de Nova York e esbravejou contra o presidente: "É um racista que estragou meu futuro."

No entanto, para algumas pessoas vetadas a liminar não dá garantias suficientes."É muito arriscado. A cada dia você acorda e há uma nova decisão", disse o sírio Tariq Laham, 32, que mora em Dubai abandonou os planos de viajar aos EUA com a noiva.

"DECISÃO RIDÍCULA"

Embora estivesse passando o fim de semana em seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida, Trump passou todo o sábado enviando mensagens em uma rede social criticando a liminar e atacando o juiz James Robart.

Foram sete menções ao magistrado, que preferiu não responder às críticas do presidente. "A decisão deste pseudo juiz, que essencialmente tira do nosso país o cumprimento da lei, é ridícula e será derrubada!."

Ridícula

Oito horas depois, voltou a falar. "Para onde nosso país está indo quando um juiz pode paralisar um veto de viagem do Departamento de Segurança Doméstica e qualquer um, inclusive com más intenções pode entrar nos EUA?"

A terceira foi: "Porque o veto foi derrubado por um juiz, muitas pessoas muito ruins e perigosas podem estar entrando aos montes no nosso país. Uma decisão terrível."

Terrible

Ele ainda fez referência a uma decisão tomada por um juiz de Boston, que rejeitou o apelo feito pelo procurador-geral de Massachusetts, acusando o governo federal de intolerância religiosa ao escolher países de maioria islâmica.

"Por que os advogados não estão vendo isso e usando a decisão do Tribunal Federal de Boston, que está em conflito com esta ridícula decisão de retirar o veto?"

Boston

A última mensagem, às 19h48 locais (22h48 em Brasília), ele mencionou o risco da entrada de terroristas —principal motivo que ele alega para anunciar o veto temporário aos cidadãos destes países e a refugiados de todo o mundo.

"O juiz abre nosso país para terroristas potenciais e outros que não têm nossos maiores interesses no coração. As pessoas más estão muito felizes."

Bad people

PROTESTOS

Em sua argumentação para acatar uma ação movida pelos Estados de Washington e Minnesota, o juiz James Robart afirmou que "a ordem executiva prejudica os moradores desses Estados em áreas como emprego, educação, negócios, relações familiares e liberdade de viajar".

Para a oposição, o ataque de Trump foi uma falta de respeito ao Judiciário. "Ele está minando todo o sistema de governo, não só as decisões das que discorda", disse o senador democrata Ben Cardin.

O líder democrata da Comissão de Inteligência Doméstica na Câmara, Adam Schiff, foi mais duro. "Leia a 'pseudo' Constituição", disse.

O presidente está tendo descanso perturbado por centenas de pessoas que protestam na entrada de seu resort. As manifestações se repetiram nas maiores cidades do país, e foram precedidos por atos na Europa e na Indonésia.


Endereço da página:

Links no texto: