Folha de S. Paulo


Ex-embaixador pode ajudar relação do Brasil com Trump, diz pesquisador

Em seu discurso inicial no Departamento de Estado dos EUA, nesta quinta (2), o novo responsável pela diplomacia americana, Rex Tillerson, agradeceu ao diplomata Thomas Shannon pelo trabalho interino no cargo desde a posse do presidente Donald Trump.

Ex-embaixador em Brasília, Shannon é subsecretário de Estado para Assuntos Políticos —principal posto ocupado por diplomatas— e deve ter um papel central nas relações exteriores dos EUA no governo Trump, o que deve ser bom para o Brasil, segundo o pesquisador australiano Sean Burges.

Pedro Ladeira - 17.dez.2016/Folhapress
Thomas Shannon foi nomeado subsecretário para Assuntos Políticos do Departamento de Estado
Thomas Shannon foi nomeado subsecretário para Assuntos Políticos do Departamento de Estado

"Por mais que Trump esteja mudando a diplomacia americana, Shannon ainda está lá. Ele tem um senso muito claro do que pode ser feito e do que não pode ser feito, conhece o jogo e sabe falar a língua de Trump", explicou Burges em entrevista à Folha.

Segundo ele, a presença de Shannon no Departamento de Estado vai ajudar a superar um dos principais desafios da relação bilateral entre Brasil e EUA: o desconhecimento dos americanos em relação ao Brasil.

"O que atrapalha o desenvolvimento de políticas e iniciativas que são do interesse dos dois países é uma falta de conhecimento sobre o Brasil em Washington e um justificado legado de desconfiança do Brasil em relação aos EUA", disse. Shannon, "conhece o Brasil e fala a língua das pessoas que estão em torno de Trump, o que pode ajudar".

Vice-diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da universidade Australian National e pesquisador sênior do Council on Hemispheric Affairs, Burges acaba de lançar o livro "Brazil in the World: The International Relations of a South American Giant" ("Brasil no Mundo: As Relações Internacionais de um Gigante Sul-Americano), editado em inglês pela Manchester University Press, em que aborda o "jeito brasileiro" de fazer diplomacia.

Para ele, a não ser que surjam problemas inesperados, não há motivos para preocupação do Brasil na relação com Trump, pois os temas centrais para Trump são a balança comercial e a imigração, que não criam problemas entre os dois países.

"A não ser que algo dê errado, é importante manter a calma e continuar o trabalho bilateral. 'Keep calm and carry on'. Pode dar tudo certo."

A avaliação do pesquisador é de que o Brasil e a América Latina (exceto o México) não estão no centro da atenção do governo americano, e que isso é bom para o país e para a região.

"O problema com Trump é chamar a atenção. Qualquer coisa que atraia a atenção dele se torna um risco. O ideal é ficar quieto, se manter fora do radar, e manter as negociações tradicionais. Ele não é um ator racional, e não podemos saber o que eles está planejando", disse.


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