Folha de S. Paulo


Corrupção contribui com populismo, diz ONG; Brasil piora em ranking

A ONG anticorrupção Transparência Internacional (TI) alertou nesta quarta-feira (25) que níveis crescentes de corrupção e desigualdade social geram um contexto propício para a ascensão de líderes populistas, como o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

"Durante 2016 vimos que em todo o mundo a corrupção sistêmica e a desigualdade social se reforçam reciprocamente, e isso provoca decepção nas pessoas em relação à classe política", diz um comunicado da ONG sobre a divulgação de seu relatório anual "Índice de Percepção da Corrupção", um levantamento com dados de 176 países.

Segundo a TI, líderes populistas "têm conseguido explorar o desencanto das pessoas com 'o sistema corrupto'" para angariar apoio de eleitores, apresentando a si mesmos como "a única saída" para acabar com corrupção.

"De fato, Trump e muitos outros líderes populistas frequentemente traçam conexões entre uma 'elite corrupta' interessada apenas em enriquecer (...) e a marginalização das 'pessoas trabalhadoras'", diz a ONG. "Apesar disso, o histórico de líderes populistas em resolver este problema é lamentável; eles usam a mensagem de corrupção-desigualdade para conquistar apoiadores, mas não têm a intenção de combater o problema seriamente."

"A questão é: esses eleitores estão apoiando reais defensores de propostas anticorrupção ou dando sustentação a vigaristas?"

Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu repetidamente "drenar o pântano" da corrupção em Washington, eliminando conexões espúrias entre políticos e empresários. Suas propostas para combater esse problema incluem proibir temporariamente ex-funcionários públicos de exercer atividades de lobby.

A ONG diz que, caso sejam cumpridas, essas promessas podem melhorar ligeiramente a posição dos EUA no ranking de percepção de corrupção –em 2016, o país ficou em 18º lugar.

Entretanto, o relatório expressa preocupação com relação a possíveis conflitos de interesses entre o governo de Trump e seus negócios privados.

O magnata nova-iorquino tem sido criticado nos EUA por indicar seu genro, Jared Kushner, para um cargo na Casa Branca e por decidir manter o controle de seu império imobiliário nas mãos de familiares enquanto ocupa a Presidência.

BRASIL

Em seu relatório, a TI aponta que o escândalo de corrupção da Petrobras e da Odebrecht elevou a percepção sobre a corrupção no Brasil –em dezembro, a força tarefa da Lava Jato foi premiada pela ONG.

Entre 2015 e 2016, o Brasil melhorou ligeiramente sua pontuação sobre percepção de corrupção, mas ainda se manteve em nível classificado como "fracassado" no combate à corrupção. No ranking, o país caiu três posições, ficando em 79º lugar.

"Os casos de corrupção em grande escala, como os da Petrobras e Odebrecht no Brasil (...) mostram como o conluio entre empresas e políticos tira das economias nacionais milhares de milhões de dólares desviados para beneficiar alguns poucos às custas da maioria", diz a ONG.

Apesar disso, "nem sempre é ruim ter manchetes sobre corrupção", afirma o relatório, apontando que 2016 trouxe à tona diversos escândalos de corrupção no mundo. Além do petrolão, a TI destaca casos como o Panama Papers e as investigações contra dirigentes da Fifa.

O relatório alerta para a situação da Venezuela, que ocupa a 166ª posição no ranking –a pior colocação dentre as Américas. O país enfrenta uma grave crise política e econômica, que gera desabastecimento de produtos e aumento da violência.

Lideram o ranking Dinamarca e Nova Zelândia, empatados. Finlândia, Suécia, Suíça e Noruega vêm em seguida.

Nos últimos lugares, figuram países assolados por conflitos, como Somália (176º, o último lugar), Sudão do Sul (175º) e Síria (173º).


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