Folha de S. Paulo


Pesquisa aponta apoio global a líderes fortes e que rompam regras

A desilusão com a política tradicional e a defesa de líderes fortes, dispostos a falar o que pensam e a romper com as regras —fenômenos que têm sido usados para explicar a vitória de Donald Trump na eleição dos EUA— estão em alta em quase todo o mundo.

Uma pesquisa de opinião realizada em 22 países (incluindo o Brasil) revela uma crescente sensação de declínio dos países, o que gera insatisfação popular com partidos e políticos convencionais e apoio a essas lideranças novas e de fora deste espectro tradicional —como o próprio Trump.

Dominick Reuter/AFP
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, deixa entrevista coletiva na Trump Tower, em Nova York
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, deixa entrevista coletiva na Trump Tower, em Nova York

Segundo o levantamento "Is The System Broken?" (O sistema está quebrado?), do instituto Ipsos, quase metade dos entrevistados (49%) apoia a ascensão de líderes nacionais fortes, dispostos a romper com as regras do jogo em seus países.

Mais da metade (57%) acha que seu país está em declínio, e quase dois terços (64%) acham que os políticos em seus países não se preocupam com as pessoas comuns.

Este sentimento de descrença é apontado pelo Ipsos como uma das principais razões para o alto apoio da população entrevistada a líderes políticos com discurso livre e dispostos a romper com as regras políticas vigentes.

Para 68% dos entrevistados, o sistema político e econômico foi manipulado para favorecer apenas os mais ricos e poderosos, e para 63% os países precisam de um líder forte para tomar o país de volta dos ricos e poderosos.

O estudo aponta que após um ano de eventos políticos de grande impacto no mundo, como o "brexit" e a eleição de Trump, 2017 começa sob a perspectiva de mais incertezas enquanto a população global se sente abandonada pelo sistema tradicional.

A defesa de lideranças assim é forte especialmente na França, onde 80% dizem concordar com a ideia. Em segundo lugar fica Israel, com 69%. Alemanha (21%), Suécia (23%) e Espanha (35%) são os que menos concordam com a ascensão de líderes deste tipo. O Brasil tem índice de apoio a políticos desse tipo abaixo da média global: 48%.

Uma proporção ainda maior (64%) acredita que políticos deveriam ser livres para falar o que pensam, independentemente do que as pessoas podem achar disso -um possível sinal de rejeição ao discurso politicamente correto.

Apesar de revelar a frustração global com a política, a pesquisa mostra que os entrevistados não rejeitam tão fortemente a globalização, que costuma ser apontada com frequência como uma das causas para a decepção com o sistema político.

Em média, 42% dos entrevistados defendem a abertura dos seus países para o comércio internacional. Apenas 26% dos ouvidos acham que a globalização econômica é uma ameaça.

Para o levantamento, o instituto usou um painel de pesquisas on-line para entrevistar 16.096 pessoas em 22 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Hungria, Índia, Israel, Itália, Japão, México, Peru, Polônia, Reino Unido, Suécia e Turquia.


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