Folha de S. Paulo


Indicado por Trump para chancelaria diz que Rússia é 'perigo' para o mundo

Indicado para ocupar o cargo de secretário de Estado no futuro governo dos EUA, Rex Tillerson disse nesta quarta-feira (11), em sabatina no Senado, que a Rússia representa um "perigo" para o mundo.

Ex-presidente da petroleira ExxonMobil, Tillerson é conhecido por suas parcerias comerciais com a Rússia, em especial sua relação com o presidente Vladimir Putin. Era esperado que o empresário fosse questionado sobre isso na sabatina, tendo em vista atritos recentes entre Washington e Moscou.

Daniel Kramer - 21.abr.2015/Reuters
ExxonMobil Chairman and CEO Rex Tillerson speaks during the IHS CERAWeek 2015 energy conference in Houston, Texas April 21, 2015. REUTERS/Daniel Kramer/File Photo ORG XMIT: LONX360
Rex Tillerson, CEO da ExxonMobil, cotado para o Departamento de Estado

"A Rússia hoje representa um perigo", afirmou Tillerson. "Ela invadiu a Ucrânia, inclusive tomou a Crimeia, e apoiou forças da Síria que violam brutalmente as leis da guerra. Nossos aliados da Otan estão certos em ficar alarmados diante de uma Rússia ressurgente."

"A Rússia deve saber que nós seremos cobrados por nossos compromissos e pelos [compromissos] de nossos aliados, e a Rússia será responsabilizada por suas ações", acrescentou.

Questionado pelo senador republicano Marco Rubio se Putin é um criminoso de guerra, devido aos bombardeios realizados na Síria contra rebeldes e civis, Tillerson disse que "não usaria este termo" e que precisaria ter mais informações antes de fazer "acusações tão, tão sérias".

O empresário afirmou ainda que a Rússia tem um "conjunto de valores" muito diferente dos EUA, mas que o país é importante e não pode ser ignorado.

Ele disse que a aplicação de sanções contra outros países é uma ferramenta "muito poderosa", mas que deve ser levado em conta seu potencial impacto sobre as atividades de empresas americanas no exterior.

No passado, Tillerson se opôs às sanções econômicas aplicadas contra a Rússia pela anexação da península da Crimeia, em 2014, considerada ilegal pela comunidade internacional. Graças às sanções, parte dos rendimentos da ExxonMobile na Rússia foi congelada.

A indicação de Tillerson para o cargo de maior prestígio no gabinete faz parte da estratégia do presidente eleito, Donald Trump, de reorientar a política externa americana e promover uma reaproximação em relação ao Moscou.

Com relação às recentes acusações contra Moscou de interferência nas eleições americanas por meio de ciberataques em favor de Trump, Tillerson afirmou que ações recentes da Rússia "desrespeitaram os interesses americanos". O presidente eleito nega ter recebido apoio do Kremlin.

Na sabatina, o empresário do setor petroleiro afirmou que os EUA são "a única superpotência mundial dotada dos meios e do compasso moral capaz de moldar o mundo para o bem".

Ele disse ainda que o "islã radical representa um grave risco à estabilidade das nações e ao bem-estar de seus cidadãos", e exaltou as parcerias dos EUA com aliados do mundo islâmico no combate ao terrorismo.

Além disso, Tillerson disse ser importante que os EUA mantenham sua presença nas negociações internacionais sobre a mudança climática. A afirmação contrasta com declarações anteriores do futuro ocupante da Casa Branca -Trump já chegou a dizer que o aquecimento global é uma "invenção" da China para prejudicar os negócios americanos.

Alexey Druzhinin - 30.abr.2011/AFP
(FILES) This file photo taken on August 30, 2011 shows Russia's Prime Minister Vladimir Putin (L) speaking with ExxonMobil President and Chief Executive Officer Rex Tillerson during the signing of a Rosneft-ExxonMobil strategic partnership agreement in Sochi on August 30, 2011. President-elect Donald Trump on Tuesday tapped ExxonMobil chief Rex Tillerson, an oilman with deep ties to Russia, as his secretary of state. Tillerson's nomination comes just days after a secret CIA report accused Russia of interfering with the US election in favor of Trump, in a development which could complicate his confirmation. / AFP PHOTO / RIA NOVOSTI / ALEXEY DRUZHININ ORG XMIT: MOW001
Rex Tillerson e o presidente russo, Vladimir Putin, em foto de 2011

PERFIL

Tillerson, 64, foi selecionado para cuidar da pasta de maior prestígio do governo americano, atualmente sob a guarda de John Kerry, e pela qual já passaram de Thomas Jefferson (1790-93) a Hillary Clinton (2009-13).

Diante de acusações de conflito de interesse, o falcão do petróleo deixou recentemente o comando da ExxonMobile. Ele também é criticado pela falta de experiência diplomática.

Como chanceler, Tillerson poderia mexer os pauzinhos para ajudar a empresa para a qual serviu por quatro décadas, após pegar seu diploma de engenharia na Universidade do Texas.

A aprovação no Senado de sua nomeação para a Secretária de Estado é considerada uma das mais difíceis dentre os nomes selecionados para compor a equipe de Trump.

Dos 19 membros do Comitê de Política Externa do Senado, 10 são republicanos. Supondo que o bloco democrata vote unido contra Tillerson, bastaria um "vira-casaca" do outro lado para barrar sua nomeação.


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