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Ataque com caminhão deixa ao menos quatro mortos em Jerusalém

Menahem Kahana/AFP
Israeli security forces gather at the site of a vehicle-ramming attack in Jerusalem on January 8, 2017. / AFP PHOTO / MENAHEM KAHANA
Equipes de emergência atendem feridos em área atingida por caminhão em Jerusalém

No pior atentado terrorista em Israel em seis meses, um motorista de caminhão palestino acelerou em direção a um grupo de 45 soldados israelenses, em Jerusalém, matando quatro (três mulheres e um homem de 20 a 22 anos) e ferindo 17.

O atacante, Fadi al-Qanbar, 28, que foi morto no local por um guia turístico armado e dois soldados, residia no bairro de Jabel Mukaber, em Jerusalém Oriental, um dos barris de pólvora de Jerusalém, cidade, na prática, dividida em seu lado ocidental (judaico) e oriental (árabe).

Segundo o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, o atacante apoiava a facção terrorista Estado Islâmico (EI) e se inspirou nos dois atentados com caminhões que chocaram a Europa, em 2016: o de Nice (14 de julho), que deixou 86 mortos e 434 feridos, e o de Berlim (19 de dezembro), com 12 mortos e 56 feridos.

Editoria de Arte/Folhapress
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"Isto é parte do mesmo padrão inspirado pelo Estado Islâmico que vimos primeiro na França, depois na Alemanha e agora em Jerusalém. Faz parte da mesma batalha em curso contra este flagelo global do novo terrorismo", disse Netanyahu, que visitou o local do atentado duas horas depois, junto com o ministro da Defesa, Avigdor Liberman.

Na edição de novembro da revista "Rumiyah", publicada pelo EI, o grupo havia sugerido a utilização de veículos como arma contra os infiéis. Para especialistas, no entanto, o atentado em Jerusalém não é uma novidade que começou na Europa e só agora inspirou palestinos.

"Não duvido que ele tenha se inspirado em Nice e Berlim e que haja perigo de mais 'copycats', mas os atropelamentos com veículos não começaram em Nice. Começaram conosco, há 30 anos, aqui em Israel", diz Menahem Landau, ex-diretor do Serviço de Segurança de Israel.

LOBOS SOLITÁRIOS

De fato, desde setembro de 2015, quando começou uma onda de atentados contra israelenses cometidas por "lobos-solitários" palestinos —que deixou, até agora, 47 pessoas mortas e 650 feridas—, 48 dos 332 ataques foram atropelamentos com carros, ônibus, vans e caminhões.

Nesse período, cerca de 220 palestinos foram mortos pelas forças de segurança de Israel, sendo que que dois terços deles enquanto cometiam os ataques.

Logo após o atentado, a polícia de Jerusalém deteve nove pessoas em Jabel Mukaber, entre eles o pai e dois irmãos do atacante.

O gabinete de segurança do governo Netanyahu se reuniu e tomou três decisões, duas delas tradicionais nesse tipo de incidente (demolir a casa do atacante e não devolver seu corpo à família para realização de enterro religioso) e uma inédita: possibilidade de prisão preventiva, sem necessidade de julgamento como medida cautelar, de apoiadores do EI.

"Parabenizo a decisão do gabinete. Temos que ser maus com os maus e bons com os bons. Temos que retirar o câncer onde ele existe", reagiu o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat.

O grupo islâmico Hamas classificou o atentado de "heroico". "A operação com o caminhão em Jerusalém prova que todas as tentativas de acabar com a intifada (revolta palestina) vão fracassar", escreveu o grupo no Twitter.

O chefe da política, Roni Alsheich, afirmou que não houve nenhum alerta prévio antes do ataque, o que caracteriza a atual onda de atentados cometidos por "lobos solitários":

"Trata-se de um morador de Jerusalém Oriental que pode circular com seu carro com placa israelense por qualquer lugar e pode decidir num momento ou outro que fará um atentado".

O ataque aconteceu por volta das 13h30 (9h30 em Brasília) quando um grupo de 300 soldados fazia um passeio guiado, como parte de um curso de oficiais, no mirante de Armon Hanatziv (Palácio do Comissário), visitado anualmente por milhares de turistas por causa da vista privilegiada sobre toda a cidade.

Pouco minutos depois que o primeiro grupo, de 45 soldados, desceu de um ônibus, Fadi al-Qanbar, acelerou com seu caminhão em direção a eles.

Após o primeiro choque, Qanbar deu marcha-ré para atingir novamente quem já estava o chão, matando a tenente Yael Yekutiel (20) e os cadetes Shir Hajaj (22), Shira Tzur (20) e Erez Orbach (20).

Foi nesse momento que o guia turístico Eitan Rond (31), um dos atingidos, que estava armado, se levantou e atirou contra a janela do caminhão, atingindo o atacante.

FALHA

Uma das câmeras de segurança do local registrou o momento do ataque, causando comoção e questionamentos. Isso porque o vídeo mostra a maioria dos soldados armados fugindo do local após o atropelamento, ao invés de atirar contra o terrorista. Só dois soldados atiraram contra o caminhão, além de Eitan Rond.

"A pergunta que deve ser feita é porque um civil é o primeiro a reagir quando havia no local dezenas de oficiais com armas mais eficazes do que a minha", disse Rond ao Canal 2 da TV israelense.

Outra testemunha, a guia Leah Schreiber, contou que o temor era de que houvesse mais um atentado após o atropelamento, o que afugentou os sobreviventes, soldados e oficiais "jobnikim" (que não servem em unidades de combate).

Mas analistas sugeriram que os soldados hesitaram em atirar para não serem culpados, depois, de assassinato devido ao caso do soldado Elor Azaria, condenado por homicídio por matar um atacante palestino em Hebron, na Cisjordânia —um veredito que dividiu o país.

O atentado ofuscou o principal assunto do dia em Israel: mais um escândalo de suposta corrupção envolvendo o primeiro-ministro Netanyahu.

Segundo as primeiras informações, Netanyahu teria negociado com o dono do maior jornal do país, o "Yedioth Aharonoth" (Últimas Notícias), que o jornal diminuísse o tom das críticas contra ele em troca do fim das edições de fim de semana do diário competidor, "Israel Hayom" (Israel hoje), distribuído gratuitamente com financiamento do milionário americano Sheldon Adelson, aliado próximo de Netanyahu.

O premiê também está sendo investigado pelo suposto recebimento de presentes e favores ilegais do produtor de cinema israelense radicado nos Estados Unidos Arnon Milchan. Ele foi interrogado duas vezes pela polícia na última semana.


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