Folha de S. Paulo


Morre aos 92 anos o presidente Mário Soares, pai da democracia portuguesa

Jose Manuel Ribeiro - 5.jun.2009/Reuters
FILE PHOTO: Mario Soares, founder of Portugal's Socialist Party and former prime minister and president, waves to supporters at the end of the final rally for the EU parliament elections in Lisbon June 5, 2009. REUTERS/Jose Manuel Ribeiro/File Photo ORG XMIT: RFM05
O presidente de Portugal Mário Soares, em foto durante evento em 2009

Mário Soares, presidente e primeiro-ministro de Portugal, morreu neste sábado (7) em Lisboa aos 92 anos. Ele estava internado em estado grave desde 13 de dezembro. O motivo da morte ainda não foi divulgado pelos médicos ou pela família.

Soares foi uma das figuras mais importantes da história recente portuguesa e participou de momentos-chave do país, como a fundação do Partido Socialista de Portugal e o combate ao regime de António de Oliveira Salazar, que durou de 1933 a 1974.

Figura controversa entre portugueses, ele nasceu em 1924 e formou-se em direito. Soares filiou-se ao Partido Comunista aos 18 anos, durante sua passagem pela universidade, mas deixou as fileiras poucos anos depois.

Em 1964, o futuro presidente fundou a Ação Socialista, que seria o embrião do futuro Partido Socialista. Após repetidos atritos com o regime português, ele foi detido 12 vezes e expulso do país. Ele foi levado a São Tomé e Príncipe, na época colônia de Portugal, antes de partir para o exílio na França.

Soares voltou a Lisboa logo após a Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974, e é creditado por ter assentado as bases do que seria o Estado democrático português, de que é dito pai.

Uma das críticas mais frequentes ao ex-presidente foi como ele lidou com o processo de desmonte da colonização portuguesa e como tratou do retorno de quase 500 mil cidadãos, parte deles restabelecidos precariamente.

Soares foi eleito premiê do país em 1976 —o primeiro governo constitucional— e em 1983 e é visto como um dos responsáveis pela adesão do país à instituição que antecedeu a União Europeia, bloco econômico que ajudou a devolver Portugal ao cenário internacional. Sua contribuição inclui, ainda, a ampliação do ensino público.

Soares tornou-se presidente em 1986 e governou por dez anos. Ele concorreu para um terceiro mandato em 2006, mas não foi eleito, e desde então afastou-se da política —apesar de ter mantido sua constante crítica aos seus sucessores.

FUNERAL

Na segunda (9), o corpo de Soares sairá em cortejo em Lisboa, passando pela pela casa onde morou, a Câmara de Lisboa e o Mosteiro dos Jerônimos, onde será o velório aberto ao público. Agnóstico, ele não será velado em capela e tampouco haverá missa de corpo presente.

No terceiro dia haverá uma cerimônia com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa antes de o corpo ser enterrado no Cemitério dos Prazeres.

Em nota, Rebelo de Sousa evocou os momentos históricos de Mário Soares, em especial a resistência no exílio e a volta a Lisboa. "A sua causa foi sempre a liberdade. No que ele era decisivo sempre foi vencedor. Esteve disponível para liderar o governo em dois momentos graves", disse.

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou que Portugal perdeu "aquele que foi tantas vezes o rosto e a voz de nossa liberdade". "Fê-lo contra a ditadura e com isso sofreu a prisão, sofreu a deportação e sofreu o exílio."

Costa decretou três dias de luto nacional, mas não participará do funeral por estar em visita de Estado à Índia até sexta. A decisão recebeu o apoio do Ministério das Relações Exteriores.

O não cancelamento da visita acaba evocando o próprio Mário Soares. Ele não interrompeu uma visita à Hungria e à Holanda em 1989 quando seu filho, João, estava internado na UTI de um hospital sul-africano após sofrer um acidente de avião em Angola.

Com informações de São Paulo.


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