Folha de S. Paulo


Trump escolhe grande crítico da China para chefiar comércio internacional

O presidente-eleito dos EUA, Donald Trump, nomeou na quarta-feira (21) um crítico veemente da China, Peter Navarro, para chefiar um novo gabinete da Casa Branca que supervisionará o comércio e a política industrial, no último indício de que Trump caminha para uma reformulação das relações entre as duas maiores economias do mundo.

Trump também disse que o investidor bilionário Carl Icahn serviria como assessor especial sobre questões regulatórias, outra área da política econômica em que o presidente-eleito quer grandes mudanças.

As nomeações refletem a intenção de Trump de aumentar o crescimento econômico atacando o que considera empecilhos críticos. Ele prometeu expandir o setor industrial nos EUA reduzindo a regulamentação federal e impedindo o que descreveu como concorrência desleal dos industriais chineses. A escolha de Navarro e Icahn também reflete a clara preferência de Trump por assessores que são leais e não têm experiência de governo.

Navarro, 67, um professor na Universidade da Califórnia em Irvine, tem doutorado em Harvard e é o único economista credenciado no círculo mais próximo de Trump. Ele é o autor de uma série de obras proféticas, incluindo um filme documentário de 2012, "Death by China" (Morte pela China), em que uma animação de um punhal chinês perfura o mapa dos EUA e causa grande sangramento. Navarro disse que a China está efetivamente travando uma guerra econômica ao subsidiar as exportações e impedir as importações dos EUA.

Influenciado pela obra de Navarro, Trump descreveu essa situação durante a campanha como "o maior roubo da história do mundo".

Trump disse que vai convencer Pequim a mudar suas políticas por meio de pressão, por exemplo designar à China uma manipuladora de câmbio; aplicar as leis comerciais de modo mais vigoroso; e, se necessário, impor uma tarifa de 45% às importações chinesas.

Em uma declaração, Trump descreveu Navarro como "um economista visionário" e disse que ele "desenvolverá políticas comerciais que irão encolher nosso deficit comercial, expandir nosso crescimento e ajudar a conter o êxodo de empregos de nosso território".

Um amplo leque de economistas advertiu que reduzir o comércio com a China prejudicaria a economia americana, obrigando os consumidores a pagar preços mais altos por bens e serviços. Especialistas no setor fabril também duvidam de que o governo possa aumentar significativamente o emprego industrial, notando que a mecanização é o principal motivo pelo qual há menos pessoas trabalhando em fábricas.

Para Icahn, que não receberá salário, a nova função formaliza seu relacionamento com Trump, a quem ele assessorou sobre questões econômicas durante a campanha. Aos 80 anos, Icahn não tem experiência de governo. Assim como um número crescente de nomeados por Trump, ele foi valorizado por seu sucesso como empresário.

Um ousado bilionário de Nova York que apoiou Trump com veemência durante a campanha, Icahn fez fortuna como especulador corporativo, comprando participações em empresas e exigindo mudanças para recompensar os acionistas.

"Carl esteve comigo desde o início, e o fato de ele ser um dos maiores empresários do mundo foi algo que eu realmente apreciei", disse Trump em um comunicado. "Sua ajuda sobre os regulamentos restritivos que nosso país enfrenta será de grande valia."

Icahn também terá um papel na escolha do novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários, o órgão regulador que serve de árbitro em suas batalhas com as empresas.

Filho de dois professores escolares de Nova York, Icahn não era conhecido pelo ativismo político antes da campanha de 2016 e insistiu que quer ajudar o país, e não a si próprio. Mas a escolha por Trump de um grande investidor corporativo para exercer uma função na reedição de regulamentos que poderão afetar essas empresas aumenta as preocupações sobre conflitos de interesses no próximo governo.

"A natureza corrupta desse arranjo não pode ser subestimada", disse Eric Walker, um porta-voz do Comitê Nacional Democrata, sobre a indicação de Icahn. "Os eleitores que queriam que Trump secasse o pântano acabam de conseguir mais um rosto cheio de lama."

Navarro construiu uma carreira silenciosa como acadêmico de economia, publicando trabalhos sobre temas como por que as empresas fazem doações à caridade, a desregulamentação do setor elétrico e a economia da coleta de lixo.

Ele também armou quatro campanhas políticas sem sucesso como democrata entre 1992 e 2001, incluindo candidaturas a prefeito de San Diego e a deputado federal.

Ele disse que começou a prestar atenção na China no início dos anos 2000, ao notar que formandos na escola de economia da Universidade da Califórnia em Irvine começavam a perder empregos em consequência da globalização. Em 2011, ele escreveu uma carta a Trump sobre seu livro "Death by China", no qual baseou o filme, e os dois iniciaram uma correspondência. Durante o ano passado, Navarro tornou-se um assessor de campanha cada vez mais importante em questões econômicas. Mas ele e Trump só se conheceram em setembro.


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