Folha de S. Paulo


OPINIÃO

O orgulho de Nova York em ser cidade-santuário para imigrantes

Se a agenda do próximo presidente quanto à imigração incluir uma batalha aberta sobre as "cidades-santuário", um termo que Donald Trump emprega com repulsa, a resposta correta para lugares como Nova York será: que venha a batalha.

A palavra "santuário", na forma pela qual Trump a emprega —um lugar no qual imigrantes criminosos agem sem controle, protegidos contra o longo braço da lei federal— é grotescamente enganosa, porque as cidades que se classificam como "santuários" não podem obstruir a aplicação das leis federais e não tentam fazê-lo.

Darren Ornitz - 18.dez.2016/Reuters
Manifestantes protestam contra Donald Trump, que promete controlar imigração e elevar deportações
Manifestantes protestam contra Donald Trump, que promete controlar imigração e elevar deportações

Em lugar disso, fazem o possível para acolher e apoiar os imigrantes, entre os quais os não autorizados, e optam por não participar de uma campanha de deportação que veem como injusta, derrotista e prejudicial à segurança pública.

A cidade de Nova York ostenta com orgulho um rótulo de "santuário" desse tipo. No momento em que a Califórnia está considerando medidas ousadas para proteger seus residentes contra um possível ataque de Trump aos imigrantes, o legislativo municipal de Nova York já criou uma forte rede de proteções.

Um programa inovador do legislativo oferece representação legal gratuita a crianças fugitivas da violência na América Central que chegaram ao país desacompanhadas. Dos 1.265 casos aceitos nos termos do programa, 72 crianças receberam asilo e outras 55 vistos de residência permanentes.

O Legislativo expandiu os serviços legais e de saúde em comunidades imigrantes. E aprovou leis que impedem a ação dos agentes federais de imigração nas prisões de Rikers Island, e para proibir os policiais e agentes penitenciários do município de deter suspeitos para fins de deportação, a menos que exista um mandado judicial nesse sentido.

O prefeito Bill de Blasio, que sancionou as duas leis, também prometeu, depois da eleição, defender os imigrantes moradores da cidade contra outras possíveis ameaças, como um registro de muçulmanos ou detenção em massa de imigrantes ilegais.

A prefeitura não preservará mais os registros pessoais de moradores que solicitem uma carteira de identidade municipal, e impedirá que esses dados sejam abusados em caso de deportação em massa.

O governador Mario Cuomo ecoou esses sentimentos, prometendo, ainda que sem detalhes específicos, que o Estado de Nova York começará a expandir a assistência legal a imigrantes no ano que vem.

O esforço será bem vindo caso Trump decida agir contra os imigrantes ilegais - ainda que seja impossível determinar os detalhes do que ele fará, dada a volubilidade e imprecisão de suas muitas promessas e ameaças relacionadas à imigração.

Qualquer que seja a forma que suas ações venham a tomar, as forças que defendem os santuários terão de se opor a elas de maneira resoluta. Uma coisa boa: Nova York e seus aliados em cidades de todo o país, em governos, escolas e igrejas, terão o público do seu lado.

Uma recente pesquisa de opinião pública do Global Strategy Group constatou que os norte-americanos se opõem, por 58% a 28%, à revogação do programa DACA, do presidente Obama, que protege jovens imigrantes contra a deportação.

Uma pesquisa do instituto Quinnipiac conduzida depois da eleição constatou que os norte-americanos apoiam fortemente —por 72% a 25%– permitir que os imigrantes não autorizados permaneçam, e que 60% dos entrevistados apoiam que haja um caminho para que eles se naturalizem.

O número favorável aos imigrantes foi maior na pesquisa mais recente do que em qualquer um dos estudos nos quatro anos em que a pergunta vem sendo feita, segundo o Quinnipiac.

Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto originalmente publicado como editorial no jornal New York Times


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