Folha de S. Paulo


Forças do regime e rebeldes rompem trégua e retomam combate em Aleppo

As forças aliadas ao ditador da Síria, Bashar al-Assad, e os rebeldes contrários ao regime romperam em menos de 12 horas o cessar-fogo previsto para esta quarta-feira (14) para a retirada de civis da cidade de Aleppo.

Acertada entre Rússia e Turquia, a trégua começou à 0h (19h de terça em Brasília) e duraria 24 horas. Os ônibus que retirariam 2.000 pessoas chegaram a ser levados para a região central, de onde sairiam os civis.

Na noite desta quarta, três grupos rebeldes afirmaram que um novo cessar-fogo foi acordado e teria início nesta quinta (15). Não foi detalhado, porém, o horário de início ou a duração dessa trégua. Damasco negou qualquer acordo e disse que as negociações prosseguiam.

Karam Al-Masri/AFP
Bairro dominado por rebeldes em Aleppo durante confronto nesta quarta (14)
Bairro dominado por rebeldes em Aleppo durante confronto nesta quarta (14)

Os dois lados se acusam de terem violado a trégua. O regime afirma que os rebeldes tentaram aumentar para 10 mil o número de pessoas a deixarem a área sitiada pelas tropas do governo e suas milícias aliadas.

Por outro lado, os adversários de Assad acusam o regime e as milícias apoiadas pelo Irã de condicionar a saída dos civis de Aleppo ao fim do cerco rebelde em Foa e Kfraya, povoados pró-governo na província de Idlib.

Integrantes das forças rebeldes afirmam que as milícias iranianas exigiram a libertação de reféns nestas localidades e a recuperação dos corpos dos iranianos mortos em Aleppo. As duas condições não foram aceitas.

O fogo cruzado voltou pouco ao amanhecer, quando as autoridades planejavam retirar os civis. Os ônibus voltaram às garagens quando voltaram os bombardeios. Ativistas dizem que os moradores ficaram expostos aos ataques.

"As pessoas tinham se preparado para sair dos abrigos para ficarem prontas para sair. Desde a manhã começaram a atacar áreas onde elas se reuniram", disse Mohammed Abu Jafaar, médico legista no leste de Aleppo.

Os bombardeios do regime continuaram, assim como ações dos rebeldes. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, dez civis morreram em áreas da oposição, enquanto oito civis morreram em regiões do regime.

Além dos ataques em Aleppo, no fim da tarde as forças rebeldes aumentaram seus bombardeios a Foa e Kfrala, em aparente retaliação às exigências das milícias iranianas que dominam os dois povoados.

ACUSAÇÕES

O acordo havia sido selado na terça (13) pelas autoridades da Rússia e da Turquia.

Os presidentes russo, Vladimir Putin, e turco, Recep Tayyip Erdogan, concordaram que o cessar-fogo deve ser cumprido pelos dois lados para permitirem a retirada dos habitantes de Aleppo em segurança.

Apesar de a trégua ter sido acertada por seu principal aliado internacional, Assad disse, em entrevista ao site Russia Today, que ela foi montada para conter o avanço de suas forças e salvar os terroristas —forma como chama os rebeldes.

O ditador acusa os países do Ocidente de terem pressionado a Rússia para fazer um cessar-fogo. O chanceler turco, Mehmet Cavusoglu, acusou o regime, a Rússia, o Irã e a milícia libanesa Hizbullah de romperem o acordo.

O plano de retirada foi proposto após duas semanas de rápidos avanços do regime sírio e aliados em Aleppo. Os insurgentes ficaram isolados no centro, após quatro anos de domínio da segunda maior cidade da Síria.

Iniciada em julho passado com apoio da Rússia e do Irã, a ofensiva do regime deixou 465 mortos e levou à saída de mais de 130 mil pessoas. Outras 250 mil permaneceram na cidade.

TRUMP ALIADO

Em entrevista à TV estatal russa, Assad afirmou nesta quarta que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, pode ser um aliado.

"Se Trump conseguir genuinamente lutar contra o terrorismo, ele pode ser nosso aliado natural."

O ditador sírio disse ainda que foi encorajado pelas declarações de Trump durante a eleição americana sobre lutar contra radicais islâmicos e não interferir nos assuntos internos de outros países.

Editoria de Arte/Folhapress
RETOMADA DE ALEPPO Exército sírio avança sobre áreas rebeldes na cidade

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